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sábado, 10 de dezembro de 2011

foge, amor!



pensei que estavas morto, dentro do meu corpo…
como pudeste sobreviver no meu peito de pedra?

mudaste. tens outro significante,
mas és tu. és tão igual, és tão berrante.

iludo-me contigo, como uma criança que só sabe chorar.
tenho milhares de brinquedos, mas ninguém sabe brincar.

não vou, como fui antes. sou eu, separado do passado.

andas num chão tão leve, tão propício para escorregar…

eu não consigo acompanhar os teus passos na água,
a gravidade não existe para ti. és um sonho que apago!

és uma garrafa que flutua no mar!
levas para longe estas palavras que não quero.

[pausa, espero, muda-se o púlpito]

vrhum, vrhum, vrhum,vrhuuuuum! - ouve-se de súbito
a mota a cair de podre do Armindo-Coxo, que sai do café.
(da taberna, se isto não fosse um texto actual).

não pega a mula da motorizada
e o bafo a bagaço do Armindo desespera,
roga pragas à máquina sem culpa.

[demorada vai a noite noutro local]

uma prostituta vende sexo por dinheiro.
amar?! não conhece esse morfema.
está inundada pelo podre rancor.

- que fizeste a este poema? – perguntaste.

pisaste-me primeiro! foge, amor!

[se achais que poesia é torná-lo actor principal,
então chamai-me carpinteiro, trolha, industrial,
pedinte vagabundo que deambula se quiserdes.]

nestes versos poderá ser achado o amor afinal,
mas o mundo há-de levá-lo enquanto o medes.

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