as
pedras guardam segredos de uma filosofia extinta,
de
um tempo precedente aos indícios moleculares de vida,
no
qual as noites e os dias se abraçavam,
sem
a dor de qualquer significado incorporado.
quantos
sábios já se refugiaram nas montanhas?
eremitas,
chamamos-lhes. loucos depois,
porque
a linguagem sibilante das pedras enfeitiça.
as
pedras comportam dentro de si a sabedoria do tempo,
a
complacência:
assumem-se
como a única possibilidade da eternidade.
penso
em quantas mãos já terão segurado esta ou aquela pedra
quantas histórias,
quantos gestos,
quantos ofícios,
um
artefacto de morte em última análise.
a
filosofia morreu, mas ficaram as pedras.
o
que me entedia em nós é já não termos a força
para
esculpirmos a mente ou um minério.
o
barro é mais maleável
-
um mundo faz-se em seis dias
e
desfaz-se num sopro.
as
pedras não pertencem ao mundo.
as
pedras não pertencem ao fundo dos rios
que
um dia, também eles, se hão-de extinguir,
assassinados
pela nossa sede,
porque
apenas precisamos de água, de alimento, de roupas
e
de outras tantas coisas que assumem formas transitórias,
que
sempre se decompõem noutra coisa qualquer.
uma
pedra é concreta. os seres são abstractos:
estágios
de um pó vindouro
que
também cobre as pedras
e
a filosofia
e
essas merdas todas.
quem
me dera ser uma pedra
e
ter uma filosofia mais primordial e genuína dentro de mim,
para
que assim não tivesse de escrever tanto e dizer tão pouco.
aliás,
gostava de não necessitar de te dizer nada,
apenas
pelo facto de também tu seres uma pedra.
poderíamos
rir-nos os dois
e
o mundo ser-nos-ia totalmente indiferente.
o
seu pó não significaria nada
e
retiraríamos com um chuto cada homem do nosso caminho.
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