a noite, o frio, o Natal, nós
separados por tão pouco, por tantas palavras que direi um
dia.
o lume parado, escutando os movimentos que vou
executando,
mentalmente para não te aperceberes ainda.
processo:
abrir os meus pensamentos e tirar-te de lá,
pousar-te na palma da minha mão e sentir os teus gestos,
gritar bem alto o teu nome para que saibas que estou cá,
depois de todas as fugas, cortes e manifestos.
efeito:
será outra vez o tempo a correr devagar no meio do meu
corpo,
será de novo a luz a invadir-nos os olhos humanamente
fechados.
o cigarro a morrer sozinho e o habitual copo cheio,
distante…
não os necessito para escrever estes versos, cantados em
finados.
ilação:
não direi nada disto, nada de que me possa arrepender.
trabalharei estas rimas e farei delas um poema de Natal,
com neve, fogueiras e contigo num trono escondido.
estamos tão longe, estamos tão perto.
cantamos pela noite dentro, no meu cerebral abrigo.
eu, eu que pensei poder cantar sozinho nas estradas
mas hoje, não sei por que motivo, a voz perde-se
e pede uma outra que lhe cante sonhos e rabanadas.
é a tua, só um ‘cadinho adocicada.
não pensei ver-te na rua, mas olhei pela janela.
silêncio. é Natal nas outras casas.
guardo esta miragem singela
e pego por fim no copo que ficou.
não menti. este poema já acabou.