a
primavera chegou nas asas dos pássaros negros
prometidos
por um pretérito que se mescla com o presente
e
transfigura o meu corpo num campo de cardos
onde
me perco e suplicio
inflijo
a mim próprio o expoente máximo da desculpa
que
sempre puxo do bolso cansado das minhas mãos
sussurro
e digo-me que há-de passar
-
o tempo confirma:
a
cidade avançou para o dia sem mim
e
eu permaneci nesta madrugada
envolto
no perfume de um roseiral morto
a
insinuação de dias quentes que o vento me traz
diz-me
bom dia e baixa o olhar
já
não nos conhecemos
ou
talvez eu seja um outro
que
o universo levou à Inquisição
vejo
um cigarro a morrer
estendo-lhe
a mão
e
juntos transformamos em fumo um resto de mundo
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