O escritor-que-grita-silêncios permanece sempre calado.
Entra na taberna, cumprimenta e ninguém nota a sua presença. Com um gesto, pede
sempre o habitual: um café e paz de espirito. Mais nada. E assim fica. Durante
horas. Durante horas escreve silêncios com formas de poemas e prosas muito bem
arranjadas, com a musicalidade das palavras que foi desaprendendo, porque as
palavras perdem-se e os silêncios por vezes tornam-se perpétuos. O
escritor-que-grita-silêncios não se prende a um idioma, porque ele é a torre de
babel que ainda está por erguer. Nele confluem todas as línguas do mundo e o
silêncio é o produto apurado disso mesmo.
No outro dia, deixou esquecido um
poema sobre a mesa que sempre o espera, que sempre suporta o seu peso ao longo
das noites que aqui passa. Não dizia nada, nem uma mísera palavra ou morfema e,
ainda assim, com uma ironia descabida, era o mais belo poema acerca da
ausência, seja ela qual for, por ser capaz de falar à inconsciência.
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