gostava de te dizer tantas
palavras que não consigo.
conheço-lhes o significado,
tal como a sua grafia,
estou até ciente, de forma
vaga, das suas proporções,
dos seus prós e dos seus contras. consigo , imagina
só,
ouvir-me a pronunciá-las no
meu pensamento,
mas a voz prende-se. não me
culpes.
no fundo, julgo que sabes, tal
como eu sei os teus olhos,
tal como tu sabes de cor as
palavras que não vou dizer.
valem tão pouco. isto pode não
ser um poema para ti,
não é um poema para ti, não
era suposto ser
e sei que não preciso
explicar-te muito mais.
(sempre leste tão bem nas
minhas entrelinhas.)
por qual razão haveria de
redigir um poema e falar-te de ti?
tu conheces-te, normal, embora
nem sempre acredites que sim;
tu conheces-me, banal, embora
nem sempre saibas de mim.
somos assim.
ainda pensas que te deveria
escrever um poema ou um postal?
ambos
amamos demasiado os nossos silêncios,
o mundo não entende por que
escondemos as palavras,
por que optamos pelo dilema de
sermos nós próprios.
(não, não valeria a pena tentar
explicar isto ao mundo.)
neste momento sei que estamos
aqui os dois,
a tremer com a possibilidade
de outros lerem isto,
envergonhados, presos num
segundo derradeiro.
(queremos falar, mas não
sabemos nem o que dizer.)
silêncio agridoce. tu sabes
por que desisto. improviso:
- tens isqueiro?
- não, apenas fósforos.
é como se fosse.
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