Páginas

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

o meu subconsciente come bifanas em roulottes



estúpido! és tão estúpido! pára lá de escrever esta merda, estás-me a irritar. é como se me estivesses a fotografar constantemente, de diversos ângulos, com diferentes exposições de luz. flash, flash, flash. é a última vez que te digo: pára!
            consegues ser tão chato quando queres, és mesmo bom nisso, acredita, és mesmo bom nisso. porque é que me procuras em todos estes textos que vais escrevendo, que amontoas numa gaveta sombria ou no sossego do teu esquecimento? não percebes que não sou feito de palavras? não, tu não compreendes nada de nada. qual é a filosofia que encontras nos carris do metro? qual é a verdade que encontras nos olhos da rapariga que te está a perguntar as horas? pára lá de escrever esta merda, responde-lhe! (são cinco e cinco.) custou-te alguma coisa? qual é arte que encontras nas mãos das pessoas? responde-me, estou a falar contigo. (eu é que sei.) estamos a falar só os dois, podes explicar-me. pára lá de escrever esta porcaria! responde-me, gasta palavras.
            (não valeria a pena tentar explicar-te.) porquê? achas-me estúpido? sei muitas coisas que tu não sabes, que não precisam de palavras para existir. (acredito que sim.) não duvides disso, as pessoas sabem imensas coisas que tu não sabes, elas nem precisam de as procurar nos carris do metro, nem nos olhos de uma rapariga que não conhecem, nem nas mãos de outras pessoas, indiscriminadamente seleccionadas, nem em nada. essas pessoas existem dentro dos seus corpos, dentro daquilo que vês e a que tiras fotografias. (o quê? estás-me a falar de almas? não me fodas!)
            podes dizer palavrões? sempre pensei que não pudesses. adiante, o mundo não é apenas aquilo que podes ver, que podes escrever. se continuares a acreditar nisso esta discussão será eterna. (a eternidade não existe.) pois não, não existe, nisso tens razão. queria só que te relembrasses disso mesmo, para que não percas mais tempo com isto. espero que entendas, não te digo isto por mal, não quero que te ofendas. às vezes precipito-me, não tenho de ser coerente como tu, não tenho de pensar na métrica das frases como tu. de resto, não percebo nada acerca da métrica. o que é a métrica? (noutra altura eu explico-te. prometo)
            ultimamente temos passado demasiado tempo a discutir, desculpa. (não tem importância.) porque é que nunca me olhas nos olhos? (porque nunca paras quieto.) porque é que me procuras tanto? (porque tu insistes em fugir-me.) não me leves a mal, mas não tenho paciência para ficar ao teu lado enquanto escreves, enquanto olhas o mar, enquanto fumas um cigarro sozinho, enquanto dormes, ou enquanto fazes sexo. há tanto mundo lá fora. (eu sei. traz-me um pouco sempre que saíres.)

Sem comentários:

Enviar um comentário