Fotografia: Eduardo Lima
eu
já tentei ser o que me disseram que seria melhor.
eu
já fiz por ver aquelas virtudes que sabemos de cor.
o mundo serpenteia-me sempre célere nas veias,
conhece
todos os atalhos e meios para chegar até mim:
um
lugar sombrio, escondido de qualquer verdade.
eu
sei que tudo são possibilidades
e
que o meu corpo treme de frio.
mas
e se fingíssemos nas idades,
rasgássemos
a razão e fôssemos
crianças
eternas de mãos dadas
que
não questionam o seu rumo?
ingénuas,
elas são íntegras, opacas,
e
vão ignorando este nosso fumo.
se
um dia eu me construir num avião,
colar-me-ei
a umas asas de papel novo,
para
que o vento me pegue de feição
e
me dê uma direcção rara: Moscovo.
quero
apenas ser algo, um objecto,
uma
tara, filha das minhas mãos incautas.
quero
livrar-me por fim desse teu certo,
estar
errado e nomear-me astronauta.
eu
sei que sou mais do que um rio que passa
e
que nem sempre olho a medo essas margens.
sei
que sim, mas eu: este que ouves: sou nada.
sou
apenas a personagem desta estranha canção
que
fala de mim e da minha falta de sentido.
eu:
este eu pode muito bem ser uma pedra,
pode
ser uma lareira onde ardem poemas,
pode
ser a certeza que em mim não medra,
pode
ser a nascente de todos estes dilemas.
eu
posso ser tudo, até uma maçã prateada,
porque
sou eu quem dá forma ao meu vício
e
eu nunca conheci a minha norma desejada.
enfim,
deu-me na veneta construir um homizio.
tu sabes que és mais do que um rio que passa.
ResponderEliminarobrigado! :)
ResponderEliminar