a
tarde a esvaziar a luz, o tempo a fazer correr estas palavras para um final não
programado, as ruas pacíficas, com nomes de cidades imponentes, paradas sobre
este primeiro domingo de primavera. o mar a abraçar o sol, a engoli-lo, a
digeri-lo, cores a brotarem no céu morno, um último pensamento a desprender-se
e a formar estas palavras que correm, que se repetem, que correm. as paredes
brancas da sala onde me encontro a protegerem esta corrida, o branco em
abundância deste novo documento word, ainda sem nome, a diminuir de cada vez
que os meus dedos tocam este teclado. deste computador, como um piano que tem
apenas teclas brancas, cada uma com uma caracter diferente, uma melodia evapora.
consegues escutá-la?
desliga a televisão, se for preciso.
manda calar os vizinhos, insulta-os, se for preciso. atira tochas acesas a
todos os automóveis que passam na tua rua, peço-te que o faças, o seguro
cobrirá todos esses danos. queima o silêncio sarcástico das cadeiras vazias e
senta nelas vasos de orquídeas. fecha os olhos, sente o perfume, escuta a melodia dos meus
dedos que ficou patente nestas palavras. abstrai-te deste texto. não tenhas
medo.
(finge que não os abriste ainda)
a
esta hora, num outro qualquer lugar, existe a noite a cobrir os pensamentos e a
libertar os medos. sabemos que não falta muito para que a noite chegue também
aqui e para que este momento termine. sabemos e aceitamos isso, tal como Adão e
Eva aceitaram a expulsão do paraíso. no entanto, temos medo da noite, temos
medo de nos perdermos e ambos queremos que esta frase não seja a última. temos
tanta coisa que ainda não dissemos…
(finge
que não abriste ainda os olhos. imagina o sol dentro do teu corpo feito de céu
quente; correntes marítimas a formarem-se no teu peito e a tornarem-no morno.)
chegou
a noite. não tenhas medo. lá fora, sabemos, existem unicórnios a dilacerarem
poemas futuristas; existem polícias em vigia às nossas janelas, indiferentes a
essas fantasias secretas que os rodeiam. dentro de ti, existe uma melodia
crescente e que doma os teus sentidos e os teus pensamentos esquecidos há muito
tempo. verbaliza-a! se não souberes a letra, «na-na-na» no refrão também serve.
o amor não é coisa complexa, é canção de criança.
(finge que não abriste ainda os olhos.
escuta, dança.)
Nota: Este texto não é actual, na verdade, remonta a Fevereiro de 2010. Este mês tem sido bastante preenchido e não tido o tempo que desejava para produzir novos textos. A vocês - amigos de sempre, amigos de copos, amigos do facebook, amigos da poesia que visitam com regularidade este blogue -, a todos vocês, o meu obrigado pela dedicação e compreensão!
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