deixemos de parte todos os copos de
mágoa meio vazios
e os poemas assolados pelos silêncios
cortantes e sombrios,
estirpe mutante trazida pela nossa não
comparência à mesa
e pelas incertezas dissolventes e
cortantes para os pulsos.
hoje vamos somente existir avulsos da
terra seca e estéril;
hoje vamos ver as montras, vamos dar
passos não calculados
e comprar um sorriso melhor para nós,
beber do mistério,
exaltar o sacrilégio prazeroso da carne e
erguer os braços.
[mais alto! os nossos pedaços nada podem
contra os saldos
da felicidade matinal, nada são quando
damos as mãos.]
vamos ver as montras, levitar sem saber
pelas ruas da baixa.
esqueçamos a austeridade e o aprumo da
poesia clássica,
assim como os ovos mexidos da reles
contemporaneidade.
não quisemos ser gélidos, foi o mundo,
segundo a segundo,
foi a culpa terceira que sempre
apontámos com desdenho.
eu e tu, o meu olhar exacto, nunca
quisemos ser Matisse
e representar na tela a luz refractária
do pôr-do-sol. eu e tu,
semente de loucura, nunca quisemos ser
uns surrealistas
e jurar a pés juntos a infidelidade
sabida do positivismo.
aliás, nós nunca soubemos muito bem o
que queríamos ser,
se uma veloz gazela emancipada ou se uma
lenta lontra.
vamos pôr-nos a par das tendências. vamos
ver as montras.
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