o frio agarrado ao meu peito e às minhas
memórias,
o erro colado aos meus pés indecisos e
desnorteados.
a rua a abarrotar por todos os lados
espectros só meus,
porque fui eu quem os moldou e os
manteve por perto,
quem lhes deu nome e o poder mais cruel e impossível.
e eles riem, eles galopam, eles elevam
ao quadrado
o total do meu medo. arrasto o branco do
cortinado
e tapo o negro da noite lá fora. mas
eles não desistem,
sempre se deram tão bem no sótão da
minha lembrança.
as minhas certezas de outrora agora em
pedaços,
como a fotografia que trago no bolso
metida
e em que tu já não estás e em que eu já
não conto.
como poderei fechar eu os meus olhos tranquilamente,
se sei que a minha mente é um lugar de monstros?
(não feches! convence os olhos e faz o
poema mudar.)
recupero minha visão. largo os óculos.
sou criança
outra vez, embora sinta a lástima de
estar ciente disso.
as canções da infância e os sonhos que
voaram
da minha mão, papagaios soltos ao vento,
reanimo-os agora e invento o manifesto
das cores.
elas colidem, elas mesclam-se, elas
conhecem-me
novamente e dão à minha pele um tom
iridescente:
um arco-íris a pintar o peão que se
aproxima do rei,
a pairar insensível sobre cadáveres nas minhas
veias.
o sol a implodir a oito minutos do meu
mundo:
a reduzir-se, a ajustar-se, a pertencer
ao meu corpo.
os monstros a diluírem-se nas cores e a
evaporarem,
tempestades solares nos meus olhos,
anéis de fogo
que incendeiam trincheiras de razão
dentro de mim.
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