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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

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não, o problema não é bem esse!... o facto de quem escreve o fazer, sobretudo, por vaidade, não constitui, em si, um problema. desenganem-se aqueles que pensam que um poeta, por exemplo, não é vaidoso; o facto de passar algo para o papel e de, com sorte, publicar um dia, quem sabe, ele há cada coisa, é um acto de extrema vaidade. é pensar que devemos impingir aos outros um terramoto que só a nós deveria abalar. quem não sente vaidade não escreve, restringe-se a pensar, deixa as ideias livres, deixa-as morrer ou transformarem-se num sonho, num pesadelo, num desejo quase inconsciente ou num arroto despropositado.
escrever é um vómito inusitado! mas quem disse que a vaidade era um pecado tramou-nos bem! também essa entidade escreveu numa tábua os seus decretos. se algum deus fosse realmente perfeito, não deveria ter sequer consciência disso; não deveria ter tampouco conhecimento do que é mau e do que não se deve fazer. assim sendo, penso existir vaidade em qualquer divindade e a nós, poetas, atenção, seres importantes, disseram-nos que também nós temos a capacidade de ver por entre o nevoeiro denso. “ser poeta é ser mais alto”, eis a crença que possuímos secretamente, longe de qualquer olhar superficial. esta é a nossa vaidade! mas, penso, o problema não é bem esse!...
            o problema também não é o negócio porco, o capitalismo engravatado que promove qualquer coisa desde que o lucro assim o justifique. moralismos à parte, tudo é um produto. um livro já não é sinónimo de qualidade, é apenas sinónimo de poder económico que alguém tem para financiá-lo, publicitá-lo, prostitui-lo no sentido mais imaculado do termo. truz-truz! diabo seja cego, surdo e mudo! e, pelo que acabei de dizer, o problema também não é apenas o rasgo insuficiente que possuo para escrever. por favor! isso que importa? sim, eu sei que não sou um antigo jogador de futebol; nunca fui, juro, uma acompanhante de luxo; não sou jornalista – embora ande a estudar afincadamente, e gosto de me convencer disto, para tal –; e, por último, também não tenho nenhuma estória com vampiros adolescentes que sentem inúmeras coisas ao mesmo tempo; por estes motivos, e não apenas estes, eu deveria ter algum pudor e tomar a decisão de nunca mais caligrafar, ou digitar alguma coisa para além do meu nome, rótulo que não posso nunca deixar. mas julgo que o problema, o maior, não é bem esse!...
            muito menos o problema é a sociedade, que é tão boa a fingir qualquer coisa neste momento, no anterior, no próximo; a sociedade a ignorar esta linha e a próxima; alguém que se deparou com este texto por engano, ou porque gostou da imagem, ou do título, a ler esta linha e a pensar: este caralho quem pensa que é? peço-vos desculpa! é a vaidade!... mas, de facto, eu não penso que a sociedade seja o problema. não nego que gostaria que me lessem mais, mas sei que o tempo é tudo e vocês têm tão pouco. não se envergonhem de responder negativamente, e com orgulho, nada de abanar a cabeça, muito menos de encolher os ombros, quando um intelectual, sujeito a todos os níveis mesquinho, vos perguntar se já leram Marcel Proust, Fiódor Dostoiévski, James Joyce ou Franz Kafka. digam que não; digam que estavam ocupados a viver. porque, afinal, é disso que se trata! ele sentir-se-á erudito nesse momento, a superioridade transparecer-se-á nas suas palavras, mas ele não será capaz de perceber o problema, nem suspeitará sequer da sua existência, não escutará o ruído do problema; não terá um martelo para bater na linha férrea do comboio e verificar se esta se encontra em bom estado. ele é essa mesma linha de comboio, opaca no pensamento, mas oca em qualquer local indecifrável do corpo; ele é a linha e é o comboio e é o despiste iminente; ele é tudo o que desconhece; ele é, por consequência, a morte.
            há tanta gente a respirar mas a não saber viver. é esse o problema! é a distância que criei em relação ao mundo, é a percepção da minha respiração branda, automática, e do meu cansaço, do meu desejo petulante e adiado de me despedir de mão dada com o sol e, juntos, mergulharmos no mar. amanhã surgiríamos de cara lavada e iluminaríamos sentimentos puros e frescos à nossa passagem. no fundo, só queria que o sol me cegasse, que secasse a tinta das canetas e que a necessidade não me ensinasse braille, para assim eu aprender a vida,

            ponto
           

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