Voz: Eduardo Lima
Edição: André Correia
Agradecimento especial ao Laboratório de Rádio da Universidade Fernando Pessoa.
tantas foram as fotografias que tirámos com esta máquina
e, agora, algumas, já não as lembramos, tempo a morrer.
outras quisemos esquecer e não executamos o movimento.
existe uma imagem mais
alta do que os telhados,
um ruído que se
desprende dos outros e nos toca;
existem sinais por todo
o lado, não pretendo olhar,
não olhes também. tenta
dormir, sim, tenta dormir.
ensinaram-nos a contar
as horas, a ferver a água,
a saltar e a olhar o
céu. apontámos a um só avião
e vimo-lo sem querer.
talvez nos fosse inevitável.
- dizem que não nos vê
lá de cima…!
dizem tanta coisa. há
quem afirme o nosso sono,
a nossa cegueira, a
nossa sorrateira existência.
dizem tanta coisa. por
experiência, sumimo-nos,
sabemos não ouvir. mas existe
uma imagem,
ela paira sobre os
telhados, sobre o nosso sonho.
um gigante de promessas
em ferrugem – um rosto
que se assemelha àquele
que tivemos um dia.
se ele nos falasse,
creio, não seria razão de receio,
mas ele não se distrai,
o seu tempo é outro: agora:
somos somente sombras
com dores abstractas. ai!
e disseram-me que ele
não nos vê lá de cima…!
incapazes de destruir o
gigante moribundo,
que já só anseia por
morrer numa rua qualquer,
escondida das nossas
coordenadas, vamos mentindo,
tentamos formatar os
risos de outrora, mas o mundo.
o gigante a contorcer-se
e assumir-se brinquedo;
o passado a sorrir-nos
e dizer-nos que é tarde.
ele tombará sob o nosso
enredo, não há saída.
vamos devolvê-la,
agora, antes que se estrague.
a máquina tem de
sobreviver, porque a vida.
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