tenho várias assinaturas manipuladas que uso, quase sem pulso, para escrever o meu nome. são rebuscadas, são perfeitas sem mim, são autómatas. Sou eu, sendo os outros que pareço. conheço várias pessoas e nenhuma me conhece de todo. eu próprio não me conheço de todo.
existem histórias, que me embalam amargamente naquelas noites vazias de mim, frias no meu calor introvertido. cem personagens ficcionadas cobrem as paredes meninas do meu quarto já gasto de cores. ao canto a janela está aberta, e eu pareço não querer aparecer. sob o olhar altivo da janela está a velha secretária, com velhos papéis assinados por mim. todos diferentes, todos iguais: todos papéis.
existem cem ruas escondidas, com cem pessoas tão inconscientemente perdidas. e quando pensam que se perderam, encontram-se por fim. são elas por um momento, depois procuram um rumo e voltam a perder-se. estou numa dessas ruas, mas o meu corpo dorme num quarto distante. paradoxo do espaço. alguns podem pensar que é a minha alma quem anda, outros podem pressentir que é o meu pensamento quem caminha, quem comanda, solto das minhas pernas cansadas. não sei responder. apenas sei que vou caminhando parado.
passo por cem seres, cem ruas. em cada encontro procuro por mim. paro. tiro medidas, pergunto nomes, peço moradas. depois prossigo.
se me encontrei não me reconheci…
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