Fotografia: Eduardo Lima
o tempo varia.
mais um dia que
passa,
sem nós e sem
casa.
[um
eco a romper os ventos e acelerar a sua urgência,
alguém
debruçado na ponte a contar motivos
e
a soltar a súplica metafísica que corta a ciência.]
talvez
seja porque crescemos precocemente,
talvez
seja porque quase me desvanecemos,
também
demasiado cedo, com aquela aurora.
guardamos
dias em que fomos astronautas,
em
que fizemos desenhos com sóis a sorrir,
por
vezes vários sóis num mesmo desenho;
guardamos
aguarelas de cores que não temos.
[a
pátria dos homens sem voz a tornar-se império
e
os motores dos automóveis como melodias,
indiferentes
à derrocada da poesia e do mistério.]
hoje
somos mais velhos, sonhos em pedra,
sabemos
bem o que é o sol, estrela amarela,
temos
uma ideia da sua constituição: H + He.
no
entanto, ao contrário de qualquer criança,
não
possuímos o brilho no sorriso, nos olhos,
nas
entranhas mais profundas do nosso ser.
nosso
corpo contorce-se, se exposto ao calor.
[o
náufrago conformado no arquipélago perdido
entregue
ao seu próprio sarcasmo e ao sal
da
água de um mar, onde jaz um deus vencido.]
horas
presas em segundos passam lentas.
e
ninguém nos poderá dizer quem somos, ou que fomos.
pessoas
metidas em fotografias riem sempre.
são
indiferentes à passagem dos dias,
que
não trazem essa luz nova, essa prometida.
impomos
na voz um tom frio e lunar. sorrimos.
cristalizamos.
a distância entre nós é um universo inteiro.
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