fiquei de te escrever
um poema que falasse dos teus olhos,
como se eles, essas criaturas
de um cristal utópico e onírico,
pudessem ser resumidos,
compactados em versos rimados.
fiquei de me colar um
bilhete na memória volátil dos dias,
do quotidiano
vertiginoso das colinas perdidas no horizonte,
que me lembrasse dos
timbres impossíveis dos teus passos.
fiquei de te trazer uma
lembrança do cruzeiro transatlântico,
que iniciei há duas
horas na tentativa de esquecer a tua falta.
mas, por capricho, não icei a âncora da nossa casa em
ruínas.
ah, disto não me posso mesmo
esquecer! as estrelas do sul…
tenho de te falar delas,
das figuras que compõem nas noites
em que as nuvens nada
podem contra os sonhos do mundo.
daqui a pouco, quando
esta noite chegar, quando eu chegar,
só a insónia me
esperará sentada na soleira torta da porta,
aconchegada por mantas
esquecidas com padrões de urtigas.
perguntará o que faço
com um papel e uma caneta numa mão,
um barco de borracha na
outra, um bilhete estampado na testa
e um saco de pirilampos pendurado às costas, vindo da floresta.
e eu direi: são planos
para amanhã! são planos para amanhã…
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