Imagem: O Nascimento do Mundo, Salvador Dalí
a água, cuspida pela mangueira tantas vezes calcada,
molhava a terra seca – Verão. o seu corpo continuava,
naquele ritmo constante e pouco quente, regando,
e eu, cansado – não sei se as minhas pernas
ou se as minhas palavras: é indiferente – , parado.
não eram as plantas que se refrescavam,
muito menos era a terra árida e sequiosa.
era, sim, eu: o meu avatar racional-vítreo,
que foi quem de nós se levantou primeiro.
segui-lhe o passo: eu, o meu inconsciente desnudo.
molhámo-nos subtilmente, silenciamos tudo,
para que o meu corpo não sentisse o vácuo dos defuntos.
o surreal e a razão granítica brincando juntos,
ignorando os espinhos de aço das roseiras
e reescrevendo palavras primeiras: assuntos secretos .
eles não podiam acordar aquele ser dormente:
o passado dentro de mim – um ovo – no seu sétimo sono.
[subitamente, uma bandeja de decretos a cair no chão.]
«quem sou eu? que poema é este?»
vai começar tudo de novo…
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