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terça-feira, 23 de março de 2010

Crónicas de guerra

Ferido nesta guerra cruel,
Sinto cair meu corpo na lama
E com ele toda a ilusão que é a vida.
Olho para os céus,
O tempo é-me escasso.
Eis que chega por fim,
O momento a todos destinado.
As minhas mãos tremem
E o meu olhar turva-se,
É o respirar fundo antes do mergulho.
Não há mais jogo para mim.
Porque no fundo tudo isto foi um jogo.
Um jogo que nunca lhe percebi as regras
E nunca o soube jogar plenamente.
Nesta hora em que me vou
Não deixo magoa nem arrependimento,
Apenas aquela frustração
De quem sempre quer ganhar.
Mas porque vejo a morte
Como uma derrota?
Talvez porque levei demasiado a sério este jogo
Ou porque o tenha jogado mal.
Hoje, apenas me resta a consolação de o ter jogado.
Contudo nada disso agora interessa,
Olho de novo para os céus
Tentando enxerga a luz,
A luz que separara
Minh'alma deste corpo gasto.
Mas essa luz tarda e meu orpo cede.
Talvez não seja digno dela
Ou talvez não exista...
Mas toda a minha vida fui crente,
Sempre acreditei nessa força maior chamada Deus.
Não consigo pensar o sem ele,
É a ideia da sua existência que dá cor à vida.
Mas que puta de cor vejo eu agora?
Vejo apenas o vermelho cruel de minhas feridas
E por esta revolta deixo-me tomar,
A revolta de quem exige do seu Deus
Como exige do seu escravo
E nestes últimos suspiros desespero,
Porque sinto-me perdendo o controlo deste jogo viciante.
Mas o controlo nunca eu tive!
Sempre fui uma marioneta
Facilmente manipulável
Nunca dei um passo por mim próprio,
Nunca gritei de raiva
E muito menos de euforia.
Nunca soube lutar por nada,
E por isso aqui estou eu
Lamentando a vida,
Esperando a morte.


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