sou
tudo aquilo que ainda não encontrei.
o que
me dizem que sou, já fui, não mais,
porque
todos os rótulossos se gastam
e tudo
o que se gasta se regenera depois
nos
instantes de criação de cada epílogo
dois a
dois, é mais simples a caminhada,
mas eu
sou dado aos voos rasantes,
sempre
variando entre a ascensão e o declínio.
plano,
sem planos, com asas de alumínio cortantes
de significados
herdados que sustentam a fachada.
o mundo
como pano de fundo: verde:
para fazer
dele o que quiser, ainda que nada.
os meus
olhos contêm a névoa exacta
da praia
do teu regaço tranquilo e doce
que a
brisa me promete pela manhã
quando
acordo a tempo de me perder.
o meu
cabelo ondulante, como um mar de inverno,
atribuem
de resto ao meu rosto um ar não rastreado,
como um
circo subalterno a ser desmontado,
onde
um palhaço desmaquilhado procura por si
na
jaula dos leões esfomeados e amestrados.
as minhas
mãos são trémulas, pequenas e esguias
para agarrarem
tudo aquilo que guardo dos sonhos,
por
ventura desencontrados da concretude dos dias
não sei
se é deste país ou se é de mim,
cidadão
sem pátria e sem um deus medonho,
que
provém a nostalgia que me impele
para
o pátio do entorpecimento.
os meus
pés levam-me sempre até a mim
e quando
chego nunca me reconheço;
como a
garrafa com a mensagem do naufrago
que
as ondas sempre trazem, mas que nunca será lida.
os meus
versos conduzem-me sempre a um rendez-vous
neste
quarto de tecto baixo onde agora escrevinho,
onde
a cama em que um dia estiveste me espera,
amarga,
vaga, arrepiante como um ninho de espectros errantes.
a
existência é isto. realidades e irrealidades.
o que
é a loucura?
a vida
é simplesmente a semente da procura.
quem sou?
para onde vou?
pego nos
meus pés outra vez. a vida vai-se em três tempos.
1,
continuar, 2, nunca cessar, 3. Plim! Acabou…
“o
meu nome é Pedro e sou o porteiro. quais são os teus pecados?”
pedra
não fui! melhor encaminhares-me para o Hotel dos Danados.