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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PRINCÍPIO DA INSANIDADE

PRINCÍPIO DA INSANIDADE



Enregeladas estão as mãos caídas pelo mundo
No fundo as nossas medidas estavam erradas
Porque entre o dia e a noite não tem diferença
Se ontem havia hoje não mais há

Porque deus
Farto de ser meu veio e matou a minha crença
Não tenho mais esse guia que de cego me matará
Não tenho mais a desculpa para o erro escondido
O meu nome corrompido é tudo o que me sobra
Eu esgotei os meus bons motivos
Num jogo de perigosas manobras

E agora
Nem é noite nem é dia

Naquele nosso equinócio prolongado
Meu corpo gelado que ainda se mexia
Escrevia Amo-te numa qualquer rua

A alma nada dizia
Jazia
Calada junto à tua

Nesta hora que não é dia
Nesta noite que não é agora
Limpo o sangue com que escrevia
Estanco a veia e jogo o amor fora

A MAÇÃ

A MAÇÃ


Esta maçã não me sabe

Largo-a
E sigo sem olhar
Sem lhe voltar a tocar

Tal como me deixaram
Esqueceram talvez
Não importa
Não quero falar disso
Não agora

Esta maçã não me sabe

Não quero
Porque eu só como o que gosto
E talvez por isso morro de fome

Esfomeado de sensações
Mascando aquelas de que gostei
Um dia

Naquele dia
Em que me deste uma maçã
Fruto do pecado
E juntos fodemos o mundo

Sem deus ou demónio
Sem herói ou vilão
Sem destino erróneo
Que nos cola ao chão

Nesse dia
Nós fomos apenas nós
Sós de tudo

Como galáxias próximas num universo morto
Como barcos roubados de uma frota no porto

Nesse dia
Fomos nós e maçã

Hoje a nada me sabe
Deixo no prato

Como amanhã

ERA UMA VEZ

Hoje eu vou contar um conto
Com que ontem me adormeceram
Hoje eu vou colocar um ponto
Nessas palavras que me morreram

Era uma vez
No mundo do faz de conta
Uma mão que segurava
O pesado peso do nada

Era uma vez
No castelo que se desmonta
Uma voz que aguardava
Essa palavra apalavrada

Era uma vez
Num precipício já à ponta
Um homem que chorava
Uma lágrima tão forçada

Era uma vez
Era uma vez
Era uma vez

Este conto não tem moral
Nem motivo principal

Um conto é um conto
Nada mais que palavras contadas
Ordenadas para que assim adormeças

Uma vez era este conto
Que eu só espero que te esqueças

Da forma que eu não esqueci
Atormentado pelo conto
Tonto já nem sei o que vivi
Apenas quero dormir
Mas o teu sono ainda não veio

Será de mim
Ou do conto que é feio?

Mais uma lágrima me escorre
E os teus olhos quase cedem
Nesse momento a fada morre
E os teus olhos se despedem
Já dormes talvez

Era uma vez
Este meu triste conto

Ele não é de se ouvir
Serve apenas para dormires

Boa noite

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

SER POETA É...

Ser poeta é perder a alma, é deixá-la provar de entre todos os sentimentos verdadeiros e fingidos, que a destroem, que a queimam, que a moldam, para assim a mão esbater, na folha solta de papel, a sensação tão estranha, tão obtusa. Sim, porque as sensações são confusas.
Ser poeta é tocar em Deus e descobrir que ele não existe. É ser actor, e perder em cada personagem um pouco mais de si. A dado momento, a folha solta de papel, multiplica-se, formando um monte de folhas guardadas no baú de cor desbotada. Poemas escondidos, fragmentos de si mesmo e assustadoramente diferentes entre eles. Estranhamente distintos ou normalmente desiguais. É como viver numa sala de espelhos, onde enxergamos várias projecções desfocadas de um eu descaracterizado. Entrar neste jogo é bastante perigoso. No início é saboroso, mas isso é ilusão. Um poeta é o nada, da parte caída no chão.
Ninguém pode compreender o que um poeta sente, pois as pessoas não sentem de verdade. O mundo sente tristeza, raiva ou felicidade, mas sempre de uma forma muito clara e estigmatizada; o poeta apenas sente, de forma homogénea, absorvendo o que o refúgio da mente lhe dá.
Um poeta é em ultima análise, apenas a sombra do seu último sujeito poético. A sombra somente, pois o corpo desse boneco já ficou para trás.
É isso! O poeta é um boneco...

domingo, 7 de novembro de 2010

CARTAS

Tantos são os caminhos em que me posso hoje perder
Que acabo sempre ficando só para não ter de escolher

Tu sabes que essas palavras escritas com tão cuidada letra
Foram-se elas mesmas anulando apagadas pelo pó do dizer
Ou pela minha vaga convicção da mão fraca na caneta

Eu nunca amei aquilo que disse ter amado
Somente errei ao ter-me assim enganado

Sim porque tu certamente sempre soubeste
Sempre conheceste a minha mentira

Então não me peças agora o que nunca tiveste
Ou o que nunca te dei na hora em que frio te beijei

Eu não vou escrever mais uma dessas cartas
Que te diga amo-te e que alguma vez te amei
Pois tu sabes que não seria verdadeira

Poderia até ser a minha derradeira carta
Mas eu nela mentiria como o fiz na primeira
Minha alma tombada na estrada já se farta
E a vida está quebrada quase por inteira

Hoje eu vou apenas ficar
Vou rasgar todos os compromissos que contigo eu assinei
Estou a tentar meu corpo deixar
À sombra do boneco que ontem te dei

Vai andando sem olhar para trás
O que ouves é apenas o eco da voz
De um grito que não quererás ouvir

Ele não chama por ti nem chama por nós
Apenas grita nada importante que te possa importar agora

Apenas imita
Uma alma que chora



André Correia

Nota: Este poema surge no seguimento do poema NO DIA EM QUE JULIETA MORREU. É como se fosse um complemento.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

PÁSSAROS

As figuras passam
Assombram
Levam-me para o nada
Trazem-te apressadas
Como pássaros negros voando
Entre as nuvens carregadas

A minha cabeça complica
E distorce os minutos em horas
A gente e a sua cobiça
São a doença que mata
A doença que ignoras

São como pássaros negros
São como fumo nos dedos

Que não te agarram
Que não te dão

São como pássaros que rasam
Meu corpo tombado no chão

São como pássaros que passam
São como eu

Ave de migração

NÉVOA


A porta não abriu
E o sentido foi perdido
Entre a névoa envolvente

A noite traiu o dia
E de fria ficou quente

Por várias horas falamos
Choramos ao abrigo
Da promessa desmentida

A noite roubou ao dia
A palavra que não digo

Larga esta noite já ia
Até que o céu se mudou
Trazendo-o de novo a mim

E foi assim que o meu dezembro chegou

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

NO DIA EM QUE JULIETA MORREU

No dia em que Julieta morreu
Cedeu com ela e com seu corpo
Uma alma consumida pela chaga
Sobremesa amarga
Que te leva
Que te perde
E nunca te traz a casa

No dia em que Julieta morreu
As flores continuaram perfumando
O ar que não enche agora teu peito
As tuas mãos foram buscando
Mas mais esperto esse sujeito
Fez-se de certo
Afogou-te no leito

Tu foste fácil para ele
Foste atraído pelo cheiro
Da pele nova nunca tocada

Julieta é nome do revólver carregado
Com a bala envenenada

No dia em que Julieta morreu
Logo apareceu o insano conceito
Do pobre que rouba rico para tocar na sua amada

No dia em que Julieta morreu
Veio essa peste que eu não aceito
Inundar a boca imunda que tão bem estava calada

Tu achas que sabes amar
Mas tenta antes respirar
O teu corpo é tão mais perfeito enquanto respiras
Do que ao cair no precipício do qual te atiras

Tu não foste feito para achar segundo sentidos
Tu perdes-te no meio desses medrosos gemidos

No dia em que Julieta morreu
Deus também chorou
Para que pudesses dizer que ele é bom

No dia em que Julieta morreu
Nos céus uma canção ecoou
Que hoje cantas sem saber o certo tom

Tudo isto aconteceu
Num dia em que estive fora

No dia em que Julieta morreu
Eu só cheguei a tardia hora
Quase de bêbado caído
Quase tão perdido
Como tu que choravas

No dia em que Julieta morreu
Eu dormi sem o ruído
Das promessas que rasgavas
Das cartas que queimavas

Tudo isso junto ardeu
No dia em que Julieta morreu

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

FORGOTTEN LETTERS

I´m lost in my indecisions
My shoes going but my mind stays
I’m blind for the right reasons
Crying for this cruel faith

It’s raining down
Washing my sins
I leave my birth town
I kill Kings & Queens

I pay for my words
But I don’t know exactly
What they mean

I wrote them a single letter
But they never look at her
I am so much better
Than figure in a mirror

Forget all our misses
And let the pane go
Don’t try to hide this
Cause everybody know

Watch the moonlight
And the shine of stars
Turn your back to the fight
And left behind old scars

They can say a thousand things
I don’t want to know the truth
I don´t want go to Mars

I wrote them a single letter
But they never look at her
I am so much better
Than figure in a mirror

I wrote you a different letter
But you don’t recognized my name
Maybe the script is not better
But the kiss is the same

domingo, 12 de setembro de 2010

ANNE

Fico tão confusa pela quantidade de coisas que tenho de considerar, que não sei se choro ou rio, depende do meu humor. Depois durmo com a sensação estranha de que quero ser diferente daquilo que sou, ou de que sou diferente do que quero ser, ou talvez de me comportar diferente do que sou ou do que quero ser…

Acordo cedo pela manhã
Em mais um dia cinzento
É apenas mais um dia
Do nosso já largo tormento

Viro o meu coração do avesso. O lado mau para fora, o bom para dentro e continuo a procurar um meio para vir a ser aquela que gostava de ser, que era capaz de ser, se... sim, se não houvesse mais ninguém no mundo.

Neste mundo corrompido
Que não foi feito para mim
Apenas conto contigo
Kitty amiga até ao fim

Nunca mais recuarei diante da verdade, pois quanto mais tardamos a dizê-la, mais difícil se torna para os outros ouvi-la.

Então eu vou dizer
Eu vou gritar

Aaaaaaaahhhhhhhh

Eu não sei o que fizemos
Existir já é razão
A morte está onde estivermos
Fugir não é solução

Ontem Auschwitz
Hoje Bergen-Belsen
Somente muda o local
O terror
O fedor
Esse é exactamente igual

Minhas lágrimas vou secá-las
Tanta é já esta amargura
Ao ver cadáveres em valas
Sem direito a sepultura


Agora deixo meus pensamentos
Bye dear Kitty Now I must go
Deixo-te as marcas dum sofrimento
Diz ao mundo quem eu sou
Diz ao mundo o que passou
No te olvides de mis padres
Ni tampoco de mi hermana

No final de tudo isto ainda creio…
Ainda creio na bondade humana

sábado, 11 de setembro de 2010

BANG BANG

¡Nuestra independencia, nuestros principios y nuestras conquistas sociales los defenderemos con honor hasta la última gota de sangre, si somos agredidos!
No será fácil instrumentar pretextos para hacerlo. Y ya que se habla de guerra con empleo de todas las armas, es bueno recordar que ni siquiera eso sería una experiencia nueva.
Somos los mismos hijos de ese pueblo heroico, con una conciencia patriótica y revolucionaria más elevada que nunca. Es la hora de la serenidad y el coraje.
El mundo tomará conciencia y hará escuchar su voz ante el drama terrible que lo amenaza y está a punto de sufrir…

Bandeiras são agitadas bem alto
E vozes em coro clamam
Pátria ou Morte
Inimigos prontos se armam
Ditando assim a sorte
De mais um povo
Sangrento negócio novo
Que tem de ser firmado
Pátria ou Morte
Não existe o outro lado
Da moeda corrompida
Luta soldado
A cortina está erguida

Bang Bang
Oh my God…the city is bombed
And my hope was burned

Go on soldier! Go on!

Lo dice mi compañero
Que ahora es muerto
Mi alma se ha apartado de mí
Se ha ido por dinero
Solo tengo mi cuerpo
Y una foto de ti

Go on soldier! Go on!

This is the first one
Of your last days
Don’t claim for your Mom
Don’t look for other ways

Who cares how you feel?
Go on Soldier! Go on!

Ahora no puedes llorar
Estás cercado por armas mil

Pátria ou Morte
This is the deal

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

DADOS VICIADOS( MY NAME IS NOT MOLLY)

Em sobressalto eu acordei
Tudo causa desse momento
Que senti mas não agarrei
Me entreguei
Cativei mais sofrimento
Que eu guardo para trocar
Não o faço por mal
Apenas me quero libertar

O mundo não é perfeito
Eu tampouco sou normal
Não sei do que sou feito
Meu único defeito
É querer ser animal
Ter o dom de não pensar
Nisto ou nisso
Que um dia me vai matar

É querer não ter juízo
Para assim não ser culpado
Eu não sou um submisso
Eu quero quebrar o feitiço
Que a todos foi lançado
Quero em tudo puder tocar
E tudo puder ver
Sem ter que um nome lhe dar

Grrrrrrrrhhhhhhhh
Os dados estão viciados
E as paredes estão-se a fechar

So
I take my breathe again
I take my broken proud
I feel more close the end
And I scream so loud

Aaaaaaaaahhhhhhhhh
My name is not Molly
My name is not normal

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

CAMA DE LAVADO




O sol queima
e acorda-me do sono

Ergo-me do pó
limpo os olhos para ver
as mãos estão sujas
e o sangue a escorrer

O meu pensamento grita
para um céu sempre encoberto
o abutre ao longe fita
este filho de deus incerto
minha alma não está perto
e eu não sei para onde ir
os meus pés estão cansados
e as pernas deixam-me cair
partindo-me em mil bocados

A esperança aqui não medra
e o sonho não se dá
tiro do sapato a pedra
e atiro-a para lá

Não sei muito bem para onde
talvez para o mesmo lugar
onde o meu futuro se esconde
onde a sorte ri de mim
eu não sei para onde virar
nestes caminhos sem fim

Eu vou
ficando-me

Eu dou
cortando-me

Eu sou
o estranho resultado
de parcelas imperfeitas
sou o espelho para ti virado
nessa cama em que te deitas
hoje feita de lavado
O PIÃO

Os olhos estão cegos
As sensações estão gastas
As cores estão desbotadas
Perdidas num oceano de lágrimas

O perfume vadio vai-se
Perdendo
Subitamente no ar

E eu
Aqui permaneço
Vendo-o somente ir
Para um outro lugar
E eu fico a sorrir
Ou talvez só a fingir
Pois tudo é fingimento

Tudo aquilo que eu disse
De nada nos valeu
Nem a mim
Nem a ti
E agora eis o fim
Ou talvez o recomeçar

Agora tudo treme
Explode corta
O diabo toma o leme
E deus não abre a porta

Eu não me pergunto
Nem me arrependo

Tudo desaba a mim junto
Mas aguento e sigo vendo

Eu grito por vezes
Mas calo depois
As lágrimas que chorei
Eu chorei por nós os dois
E por aqueles que me caem
A meus pés inanimados
Filhos da sorte
Filhos bastardos

Eu olho nesta rua
Inundada pela morte
Onde os sonhos estão perdidos
Mas ela está nua
Apenas restos de outrora
Apenas cortantes gemidos

Mas uma voz chama de longe
Vou mais perto para ver
É uma criança que sorri
Que sorri de verdade
E eu não consigo perceber
Não tem pais não tem casa
Não padece com a realidade
Que nada lhe tirou
Pois na mão ainda tem
O pião com que brincou

Ela agarra a minha mão
E ensina-me a brincar
Sigamos brincando então
O pião não pode parar
TALVEZ



O céu mudou de cor
mais cedo anoitece
sob a colina o sol desce
parte para um outro lugar
não sei bem onde
talvez vá descansar
num lugar onde se esconde
(talvez)

Escuto um murmúrio
nas águas no vento
que se prolonga no tempo
sussurrando às minhas sensações
são palavras são imagens
talvez sejam até canções
ou contos de mil viagens
(talvez)

Fecho meus olhos
Para sentir não os preciso
Eu queimo meu juízo
Com esta paz ardente
Que aquece meu coração
Talvez desta seja diferente
E a corrente seja de feição
(talvez)

Tudo tem um talvez
Tudo tem um lado incerto
Como este céu encoberto
Por este denso nevoeiro
Que as estrelas não deixa brilhar
Talvez seja padroeiro
De algo bom quem em mim quer tocar
(talvez)

sábado, 14 de agosto de 2010

PONTO FINAL

Este é o meu último poema
este é o poema que não desejei escrever
este é o último poema
e eu não sei bem o que dizer
estas são minhas últimas palavras
estas são as palavras que eu nunca disse
estas são as últimas palavras
que escrevi sem que deus visse
estes são meus últimos versos
estes são os versos que em vão eu não escrevi
estes são os últimos versos
deste meu livro que só eu abri
estas são minhas últimas rimas
estas são as rimas que escrevo sem pensar
estas são as últimas rimas
deste triste poema por acabar
este é o meu ponto final
este é o ponto que eu nunca desejei
este é o ponto final
deste sonho de que hoje acordei.

AMANHECER

O Sol desponta
Cedo. Vai-se o teu medo,
O meu pouco conta

A ESTAÇÃO

Quase que deu
quase que o apanhamos
foi por pouco mas ficamos
só tu só eu

Senta-te aqui
o comboio ainda demora
não desistas logo agora
por mim por ti

Vamos falando
para fazer o tempo passar
porque o comboio vai tardando

Saibamos esperar
sigamos sonhando
porque um dia há-de chegar

EU RETICÊNCIAS, TU EXCLAMAÇÃO

Eu sou sempre reticências
e tu és a exclamação
e assim vamos vivendo
sujeitos às incidências
no clarão da explosão
se tu tens toda a certeza
a mim sobra-me indecisão
eu não tenho essa destreza
para manusear tanta razão
que te preenche e faz voar
para assim tu puderes ver
mais um dia em que vou chorar
por tudo o que sonhei ser
mas que deus assim me tirou
não sei que mais posso fazer
nem sei o que em mim falhou
talvez nada talvez tudo

Vida é poesia censurada
pois o texto é absurdo

domingo, 1 de agosto de 2010

PORTA NENHUMA DE UMA RUA QUALQUER

Passo junto a nova porta
eu estranho o caminho
estou numa qualquer rua
o seu nome não importa
a mim fizeram-me sozinho

(Tolos)

Esses que julgam ter alguém
com quem possam partilhar
alguma desta culpa
que toda a gente tem
para assim minimizar
usando como desculpa
fazendo de outro refém

A mim não!
Não desta vez!

Posso até estar perdido
num lugar onde não vês
num lugar não invadido
livre e vago de razão
e de todos os porquês
que não tem explicação

Eu pergunto ao coração
ele não sabe quase nada
o único que sabe
é que a vida vai errada
e nesta rua abandonada
em que o meu eco me conforta
eu saboreio este momento

E sozinho eu me aguento
nesta rua já tão torta

sexta-feira, 23 de julho de 2010

MERAS PALAVRAS

Essas palavras
Eu li ontem no teu diário
Dissolvidas em lágrimas
Algumas também minhas
Causadas pela vida
Fina linha em que caminhas

Hoje eu tentei
ler tudo novamente
tentando achar o erro
ou novo significado
mas só me perco ainda mais
neste livro já fechado

Amanhã eu não sei
talvez lhe volte até a pegar
talvez haja ainda folhas
livres para eu escrever
algumas vagas meras palavras
que tu possas um dia ler



Este poema, tal como os últimos postados aqui no blogue, surgem depois de uma curta paragem que eu fiz na minha esccrita. Precisava de mudar um pouco e me distanciar daquilo que vinha a escrever ultimamente. Não pretendo mudar o estilo, apenas buscar novos temas e diferentes sentimentos. Decidi dar o nome de MERAS PALAVRAS a este poema, porque ele é como um recomeçar.

GRITOS

Algo no ar me perturba neste dia

Sinto uns gritos abafados
que me traz este vento
são corações apertados
almas nuas em sofrimento
como a minha as percebe
quase que sabe suas histórias
seus sonhos inconfessáveis
suas realidades ilusórias

Encontro tudo isso ainda em mim

Neste coração tão castigado
por ti por mim mutilado
ele não era bem assim
neste sonho prolongado
tuas palavras foram fim
de um amor quase roubado
que levei ontem de alguém
e tu tiraste hoje de mim

E agora só o longo tempo levará

As cinzas que tu deixaste
os restos deste amor
em que nunca acreditaste
e agora eu não sou mais
do que um grito abafado
como esses que o vento me traz
junto o meu sussurro aos seus
pois gritar sou incapaz

domingo, 18 de julho de 2010

DÁ-ME ESSA PAZ

Escuto várias queixas
vindas acho que de mim
existem vários presságios
que como indiciam meu fim
por ti ditado
ao meu amor que nada vale

Não pode ser verdade!
Algo deve estar mal!

Não suporto a vaidade
com que te foste assim embora
não aceito a realidade
que me atormenta nesta hora
em que procuro por deus
mas deus ninguém por aqui viu
talvez não sejamos todos filhos seus
talvez sejamos apenas
filhos dessa puta que nos pariu

A revolta minha mente ocupa!
O teu erro não me saiu!

Eu não me dou a essa culpa
Que bem tentas sacudir
Eu não sou a desculpa
Desse teu crime por vir
Que executarás tão friamente
No limiar da perfeição

A vida pactua contigo!
Ela estende-te a sua mão!

Ela dá-te o seu abrigo
e eu só tento perceber
porque faz isto comigo
só consigo escrever
pois é demais para eu gritar
com alguém que não me ouve
nem sequer chega a tentar
nunca tentou

Tudo o que faço é recordar
um tempo que passou
que te esforças por matar
mata-me a mim
mata o meu amor
só não me deixes assim
tira de meu corpo o calor
e dá-me essa paz que tanto quero

Essa paz que tanto espero…

quinta-feira, 15 de julho de 2010

GIVE ME A REASON

Give me a reason
I had no one
I am a wrong piece
Losted in anywhere
Don´t know exactly where
Don´t know exactly why
The only thing I have
Is this love so unreal
Do you feel?
I don´t know but I will try
To fight to you
To fight to me
Cause I am nothing
Valuable to see

But one day…
One day I will be!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

CEGO, SURDO E MUDO

No céu vazio sinto uma tensão
no corpo esta mortal fraqueza
o sangue escorre em minha mão
de quem é não tenho a certeza

Há algo nas palavras que me dizes
que eu não gosto
eu nunca aposto
nesses supostos finais felizes
como aqueles da tv
e eu não sei o porquê
talvez eu pressinta
mas não sei bem o quê
tu não me negas
nem me confirmas
só ditas as regras
reles cruas assassinas

Há algo nos teus olhos
que não consigo decifrar
há algo em tua mentira
que me faz querer matar

Mato!
Mato para não amar!

Eu limpo as mãos desse acto
antes de nas tuas eu pegar
minha culpa a água não tira
nem essa que queres disfarçar

Enquanto isto teu mundo gira
e eu fico aqui pra vê-lo mudar
como a tua cara que se vira
sem para mim sequer olhar

Eu tenho vómitos de razão
eu tenho nojo de tudo
eu fecho meu coração
torno-o cego surdo mudo

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Visitem também a minha página pessoal na comunidade de poesia Luso Poemas. http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/index.php?uid=10439

terça-feira, 15 de junho de 2010

MEU DEZEMBRO(adaptado da letra da música "My December" da banda norte-americana Linkin Park)





Este é o meu Dezembro
hoje é o dia que não quero
mas do qual ainda me lembro
e neste mês desespero
este é o meu Dezembro
estou sozinho para recordar
pois tu saíste ontem correndo
a nossa história está por contar
eu teimoso lá vou escrevendo
nesta noite de Dezembro
em que o lume não aquece
este meu corpo tão cansado
só minh’alma não arrefece
neste Dezembro arrastado
em que espero o novo dia
que te traga de volta a mim
que me devolva a alegria
e ao Dezembro ponha fim

No meu telhado a neve cai!
Frio de Dezembro ainda vai!

Comunicado

Até ao dia 1 de Julho não irei publicar nenhum texto inédito aqui no blogue, devido a questões contractuais com a editora. Peço desculpa. Esta situação também não é do meu agrado mas é uma situação temporária. Para vos compensar publicarei alguns "covers" que fiz e letras de músicas que gosto.

Fiquem bem.

Boas leituras!

André Correia

domingo, 6 de junho de 2010

A VIDA VAI INDO (versão longa)




O que há depois do sonho?
(nada)
a vida é puta e tira-nos tudo
(caga)
queixemo-nos um pouco
(gritemos até)
chamemos por deus
(tenhamos fé)
culpa-me a mim pelos erros teus
(talvez sejam mesmo meus)
não quero saber a verdade
(não a sei)
já enfrentamos a realidade
(mas não gostei)
já fizemos de tudo
(mas não apaguei)
a culpa permanece em mim
(em nós)
persegue-nos até ao fim
(esta voz)
mentir talvez seja melhor
(eles sabem nossos passos de cor)
e agora qual a nossa direcção?
(não importa)
o destino é vaga ilusão
(não há porta)
como saímos desta merda?
(como disfarçamos a perda
constante?)
não obstante
a vida tem que seguir
por vezes é cortante
por vezes faz-nos cair
(batemos no fundo)
não há ninguém que te levante
que merda de mundo
(eu já nem tento)
No meu bolso sobra ainda
uma réstia de esperança
que ainda tenho de momento
uma fortuna nunca vinda
guardada na lembrança
(escondida)
perdida entre tanto sofrimento


Nota: Este poema não é um inédito. É apenas uma versão mais extens de um poema já aqui publicado. Pessoalmente até gosto mais da versão curta.
Vida sem jeito




A culpa faço agora minha
Foi de mim
Que veio o fim
Julguei ter o que não tinha
Errei enfim
E aqui assim
Vejo o caos que se avizinha
E que se abate sobre o céu
Eu sei que sim
Julgas-me ainda atrás do véu

O preço de minha loucura
Eu já paguei
Mas não deixei
O passado que me tortura
Ainda tentei
Só esbocei
Mas não suporto a ruptura
Eu não saberia viver depois
Se te magoei
Foi porque quis sonhar a dois


Talvez a hora fosse errada
O erro passou
E nada ficou
Tu seguiste a tua estrada
Alguém chamou
Mas eu não vou
Fico aqui no meio do nada
Vivendo o sonho perfeito
Que terminou
Que raio de vida sem jeito

terça-feira, 25 de maio de 2010

PEDRAS


Pedras…
São como pedras
essas palavras tuas
que batem em mim
são duras são cruas
são verdades enfim
não me posso queixar
a vida é assim
não vou questionar
faço as contas no fim

sexta-feira, 14 de maio de 2010

CRIME



Sigo os teus olhos
eles não seguem os meus
sentes o medo
sentes a culpa
temes teu deus
não assumes o erro
mas ouves sua voz
procuras por alguém
mas estamos a sós
suplicas por paz
não sei quem a tem
olhas para trás
não encontras ninguém
foste tu quem erraste
ou erraram talvez
pagarás por teu crime
que a mim não pagaste
chegou tua vez
olha-me nos olhos
quando falo contigo
não estou a pedir
não sou teu amigo
diz quem pactuou
ou quem te deixou
fazer isto comigo
diz-me o porquê
diz-mo agora
isto não é como na tv
estás à minha mercê
chegou tua hora

Não tens por onde saír!
A tua culpa não vai sumir!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

(IN)DEFINIÇÕES



Há dias em que sorrio
tentando aliviar o frio
o frio do meu coração
que ainda ontem estava quente
mas que por coisas de gente
entra hoje em decomposição
há dias em que sou eu
nesses mesmos ainda minto
não o fiz com intenção
não sei o que me deu
ajo apenas por instinto
trago o erro pela mão
ele choca com o teu
amo o amor que já não sinto
o amor que te perdeu
ou talvez pior até
o amor que foi só meu

Amar é uma fé!
Amar é perder o pé!
“Rua dos Fracassos”


O Outono chegou.
Caem já as primeiras folhas,
Mas nesta rua nada muda.
Apenas mais um dia que passou.

O sol já não aquece este dia
Como em outros tempos o fazia.
Os dias são agora mais curtos
E na rua já não brincam os putos.

Na velha rua passa alguém,
Alguém que passa mas não parou
Ao cair de mais uma folha
Que ao tocar o chão chorou.

Os velhos pressentem tempestade
Nos ossos gastos pela idade.
Nuvens negras indiciam trovoada
E mais uma folha caiu conformada.

As gentes sentadas ao lume,
Indiferentes, aquecem corpos e almas.
Nesta rua a vida segue o costume.
Aqui não há luzes, aqui não há palmas.

Esta é a minha rua,
A Rua dos Fracassos.
Esta rua não é tua,
Não te cortes em meus pedaços.



Nota: Este poema não é um inédito. É uma versão melhorada de um poema que ja aqui publiquei, intitulado nessa altura de "FOLHAS CAÍDAS".

segunda-feira, 26 de abril de 2010




“RESTOS”


Restos…
Pedaços de ontem que hoje descarto.
Bocados de nada,
Verdades fabricadas
Das quais estou farto.
Faço-me à estrada.
Não tenho metas,
Nem rotas traçadas.
Assim vou eu
Por estradas incertas
Chamando por ti,
Querendo ser teu.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Projecto Escola da Minha Vida



Esta imagem foi captada ontem durante a cerimómia de encerramento do projecto ESCOLA DA MINHA VIDA. Projecto no qual obtive o terceiro lugar na categoria de poesia, algo que me deixou muito feliz e me deu motivação para continuar a escrever.

Nesta imagem, vemos o grupo que representou a Escola Secundária Eça de Queirós na categoria de dança. Apresentaram uma bela coreografia e penso que honraram e encheram de orgulho todos os alunos, professores e funcionários da ESEQ. Parabéns a todos!

Queria por fim dedicar este prémio ao meu avô, que embora ausente fisicamente está sempre presente em tudo o que escrevo.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dor de Sentir

Ó Deus...pobre de mim porque sinto.
Pesado é o fardo que me dais.
Triste o fado que pressinto,
dura é a viagem até ao cais.

Creio em meu coração
mas meu coração mente.
Engana-me como gente,
ilude como a razão.

Sentir é como um vício...
sentir faz-me sonhar,
sentir faz-me sofrer,
sentir faz-me voar,
sentir faz-me morrer.

Apodreço nesta prisão,
da qual não quero saír.
Sufoco na imensidão
que é a prisão do sentir.

E neste labirinto sem fim,
continuo divagando.
Mas a cada momento sinto em mim
uma dor maior...uma dor que vai matando.

terça-feira, 23 de março de 2010

Crónicas de guerra

Ferido nesta guerra cruel,
Sinto cair meu corpo na lama
E com ele toda a ilusão que é a vida.
Olho para os céus,
O tempo é-me escasso.
Eis que chega por fim,
O momento a todos destinado.
As minhas mãos tremem
E o meu olhar turva-se,
É o respirar fundo antes do mergulho.
Não há mais jogo para mim.
Porque no fundo tudo isto foi um jogo.
Um jogo que nunca lhe percebi as regras
E nunca o soube jogar plenamente.
Nesta hora em que me vou
Não deixo magoa nem arrependimento,
Apenas aquela frustração
De quem sempre quer ganhar.
Mas porque vejo a morte
Como uma derrota?
Talvez porque levei demasiado a sério este jogo
Ou porque o tenha jogado mal.
Hoje, apenas me resta a consolação de o ter jogado.
Contudo nada disso agora interessa,
Olho de novo para os céus
Tentando enxerga a luz,
A luz que separara
Minh'alma deste corpo gasto.
Mas essa luz tarda e meu orpo cede.
Talvez não seja digno dela
Ou talvez não exista...
Mas toda a minha vida fui crente,
Sempre acreditei nessa força maior chamada Deus.
Não consigo pensar o sem ele,
É a ideia da sua existência que dá cor à vida.
Mas que puta de cor vejo eu agora?
Vejo apenas o vermelho cruel de minhas feridas
E por esta revolta deixo-me tomar,
A revolta de quem exige do seu Deus
Como exige do seu escravo
E nestes últimos suspiros desespero,
Porque sinto-me perdendo o controlo deste jogo viciante.
Mas o controlo nunca eu tive!
Sempre fui uma marioneta
Facilmente manipulável
Nunca dei um passo por mim próprio,
Nunca gritei de raiva
E muito menos de euforia.
Nunca soube lutar por nada,
E por isso aqui estou eu
Lamentando a vida,
Esperando a morte.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O sol já se pôs

Sozinho junto ao mar
Onde as ondas batem,
Onde os sonhos começam,
Observo o pôr-do-sol.
Quem me dera que estivesses a meu lado
E que te pudesse dizer o quanto te amo.
Trocaria, se pudesse, todo o resto da minha vida
Por um dia a teu lado.
Mas tudo isto é inútil
Porque o sol já se pôs…
Tal como o pôr-do-sol também a vida é efémera.
Tudo passa, tudo muda
E tu não estás aqui.