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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O PIÃO

Os olhos estão cegos
As sensações estão gastas
As cores estão desbotadas
Perdidas num oceano de lágrimas

O perfume vadio vai-se
Perdendo
Subitamente no ar

E eu
Aqui permaneço
Vendo-o somente ir
Para um outro lugar
E eu fico a sorrir
Ou talvez só a fingir
Pois tudo é fingimento

Tudo aquilo que eu disse
De nada nos valeu
Nem a mim
Nem a ti
E agora eis o fim
Ou talvez o recomeçar

Agora tudo treme
Explode corta
O diabo toma o leme
E deus não abre a porta

Eu não me pergunto
Nem me arrependo

Tudo desaba a mim junto
Mas aguento e sigo vendo

Eu grito por vezes
Mas calo depois
As lágrimas que chorei
Eu chorei por nós os dois
E por aqueles que me caem
A meus pés inanimados
Filhos da sorte
Filhos bastardos

Eu olho nesta rua
Inundada pela morte
Onde os sonhos estão perdidos
Mas ela está nua
Apenas restos de outrora
Apenas cortantes gemidos

Mas uma voz chama de longe
Vou mais perto para ver
É uma criança que sorri
Que sorri de verdade
E eu não consigo perceber
Não tem pais não tem casa
Não padece com a realidade
Que nada lhe tirou
Pois na mão ainda tem
O pião com que brincou

Ela agarra a minha mão
E ensina-me a brincar
Sigamos brincando então
O pião não pode parar

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