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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PRINCÍPIO DA INSANIDADE

PRINCÍPIO DA INSANIDADE



Enregeladas estão as mãos caídas pelo mundo
No fundo as nossas medidas estavam erradas
Porque entre o dia e a noite não tem diferença
Se ontem havia hoje não mais há

Porque deus
Farto de ser meu veio e matou a minha crença
Não tenho mais esse guia que de cego me matará
Não tenho mais a desculpa para o erro escondido
O meu nome corrompido é tudo o que me sobra
Eu esgotei os meus bons motivos
Num jogo de perigosas manobras

E agora
Nem é noite nem é dia

Naquele nosso equinócio prolongado
Meu corpo gelado que ainda se mexia
Escrevia Amo-te numa qualquer rua

A alma nada dizia
Jazia
Calada junto à tua

Nesta hora que não é dia
Nesta noite que não é agora
Limpo o sangue com que escrevia
Estanco a veia e jogo o amor fora

A MAÇÃ

A MAÇÃ


Esta maçã não me sabe

Largo-a
E sigo sem olhar
Sem lhe voltar a tocar

Tal como me deixaram
Esqueceram talvez
Não importa
Não quero falar disso
Não agora

Esta maçã não me sabe

Não quero
Porque eu só como o que gosto
E talvez por isso morro de fome

Esfomeado de sensações
Mascando aquelas de que gostei
Um dia

Naquele dia
Em que me deste uma maçã
Fruto do pecado
E juntos fodemos o mundo

Sem deus ou demónio
Sem herói ou vilão
Sem destino erróneo
Que nos cola ao chão

Nesse dia
Nós fomos apenas nós
Sós de tudo

Como galáxias próximas num universo morto
Como barcos roubados de uma frota no porto

Nesse dia
Fomos nós e maçã

Hoje a nada me sabe
Deixo no prato

Como amanhã

ERA UMA VEZ

Hoje eu vou contar um conto
Com que ontem me adormeceram
Hoje eu vou colocar um ponto
Nessas palavras que me morreram

Era uma vez
No mundo do faz de conta
Uma mão que segurava
O pesado peso do nada

Era uma vez
No castelo que se desmonta
Uma voz que aguardava
Essa palavra apalavrada

Era uma vez
Num precipício já à ponta
Um homem que chorava
Uma lágrima tão forçada

Era uma vez
Era uma vez
Era uma vez

Este conto não tem moral
Nem motivo principal

Um conto é um conto
Nada mais que palavras contadas
Ordenadas para que assim adormeças

Uma vez era este conto
Que eu só espero que te esqueças

Da forma que eu não esqueci
Atormentado pelo conto
Tonto já nem sei o que vivi
Apenas quero dormir
Mas o teu sono ainda não veio

Será de mim
Ou do conto que é feio?

Mais uma lágrima me escorre
E os teus olhos quase cedem
Nesse momento a fada morre
E os teus olhos se despedem
Já dormes talvez

Era uma vez
Este meu triste conto

Ele não é de se ouvir
Serve apenas para dormires

Boa noite