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terça-feira, 16 de abril de 2013

um tempo trancado e às voltas


25 de Novembro de 2011

os dias tornaram-se frios e os corpos dormentes.
houveram demasiadas palavras incompreensíveis,
demasiadas razões arquitectadas, de forma informe,
tão maleáveis como as minhas, tão desacertadas

como as minhas invariáveis incertezas no amanhã.

nós sempre tememos os equilibristas que expõem o coração à queda.
a segurança como nosso estandarte, 
somos lúcidos
e achámos ser justos porque nos disseram que sim,
julgámos ter motivos razoáveis para todos os crimes…

mas agora, nesta tarde de Novembro,
em lugares distantes, quartos frios,
janelas onde a chuva bate e marca a melodia,
percebemos
que pensámos demasiado, parámos demasiado.
fomos um nós forjado, 
sem parámos para pensar sobre isso.

fugimos de tudo menos de um tempo.
acabámos por encontrá-lo trancado e às voltas 
no quarto onde nos adiamos.



sábado, 6 de abril de 2013

Prometeu v.3.0


O meu pensamento caminha sem um destino,
sem cicatrizes nos pés
que anseiam por montanhas novas e virgens
de onde nascem rios de liberdade
e onde as ideias se lavam dos homens gastos
- a justiça jaz nos túmulos dos idólatras.

O caminho que se impõe é a violência
e a repugnância face a toda a altivez
do último ser humanista que nunca se fez Homem.

Livre, por que não?

Se um deus sentado no seu trono me criou à mão
com um punhado de terra,
mas eu padeço da imperfeição,
resta-me encontrar um demónio nómada
e roubar-lhe um pouco de céu.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

sonho transatlântico


o mundo dos significados alinhados e cruzados
é um cigarro mal batido de trago amargo.
o encanto da poesia não o encontro nos prontuários,
nem sequer na melodia que se gera, propaga e repete
na velha caixa de música onde é sempre primavera.

como um quarto sem janelas
ou uma noite desprovida de luar
assaltada de rompante por um sonho transatlântico,
o meu nome diz tão pouco a meu respeito.

a pátria das palavras não é aquela a que pertenço

e quando me olho no espelho,
essa mescla de oráculo e poço,
penso que os deuses se enganaram
se de mim era esperada uma melodia harmoniosa
que ecoasse em flautas e encantasse serpentes.

eu não quero o sublime,
eu não quero o obsceno,
eu não quero o graal perdido,
pois despir-me de mim próprio é a melhor metáfora que consigo.

se eu fosse coisa de ler, seria uma sagrada escritura…
e rogo-te para que não me interpretes de forma literal!
se eu fosse coisa de ser, não seria deus nem criatura,
seria o que sou:
uma praia de inverno que guarda na memória um desembarque,
sem glória nem arte,
de um barco que atracou ao contrário num jeito ultramoderno.