Acerca
dos homens pouco haverá a dizer,
a não
ser, claro, o seu declínio.
Os
heróis e os deuses morreram de fome
e
agora só nos sobram as histórias de guerras passadas
que
em noites gélidas contamos ao pormenor
aos
ouvidos de crianças assustadiças e frágeis.
Ainda
assim, persiste a filosofia
que
já não quer pensar ou ser pensada
e
vive como um eremita secular
orgulhosa
do seu orgulho de ter pensado um dia.
Ainda
assim, persiste a poesia
desprovida
de cânones ou de uma métricas rígida,
derrotada
pela música
e arrumada
em cantos soturnos de bibliotecas públicas.
E o mundo
sobe ao palco,
como
uma tragédia de apenas dois actos,
com
os jornalistas a emitirem em directo para cento e tal nações.
De Alice
não há rasto ou fonte próxima
que permita
uma reportagem pomposa no país das maravilhas
e na
página seguinte encontrar o anúncio de um cruzeiro pelos mares da lua:
APROVEITE
JÁ!
Tantas
são as coisas que resistem ainda no mundo,
apenas
porque temos as mãos entretidas em ecrãs tácteis,
fazendo-nos
preservar nos bolsos esses restos de metafísica.
Mergulhados
num mundo desprovido de causas,
sobrevivemos
sem qualquer efeito aparente.