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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

SER POETA É...

Ser poeta é perder a alma, é deixá-la provar de entre todos os sentimentos verdadeiros e fingidos, que a destroem, que a queimam, que a moldam, para assim a mão esbater, na folha solta de papel, a sensação tão estranha, tão obtusa. Sim, porque as sensações são confusas.
Ser poeta é tocar em Deus e descobrir que ele não existe. É ser actor, e perder em cada personagem um pouco mais de si. A dado momento, a folha solta de papel, multiplica-se, formando um monte de folhas guardadas no baú de cor desbotada. Poemas escondidos, fragmentos de si mesmo e assustadoramente diferentes entre eles. Estranhamente distintos ou normalmente desiguais. É como viver numa sala de espelhos, onde enxergamos várias projecções desfocadas de um eu descaracterizado. Entrar neste jogo é bastante perigoso. No início é saboroso, mas isso é ilusão. Um poeta é o nada, da parte caída no chão.
Ninguém pode compreender o que um poeta sente, pois as pessoas não sentem de verdade. O mundo sente tristeza, raiva ou felicidade, mas sempre de uma forma muito clara e estigmatizada; o poeta apenas sente, de forma homogénea, absorvendo o que o refúgio da mente lhe dá.
Um poeta é em ultima análise, apenas a sombra do seu último sujeito poético. A sombra somente, pois o corpo desse boneco já ficou para trás.
É isso! O poeta é um boneco...

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