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domingo, 7 de novembro de 2010

CARTAS

Tantos são os caminhos em que me posso hoje perder
Que acabo sempre ficando só para não ter de escolher

Tu sabes que essas palavras escritas com tão cuidada letra
Foram-se elas mesmas anulando apagadas pelo pó do dizer
Ou pela minha vaga convicção da mão fraca na caneta

Eu nunca amei aquilo que disse ter amado
Somente errei ao ter-me assim enganado

Sim porque tu certamente sempre soubeste
Sempre conheceste a minha mentira

Então não me peças agora o que nunca tiveste
Ou o que nunca te dei na hora em que frio te beijei

Eu não vou escrever mais uma dessas cartas
Que te diga amo-te e que alguma vez te amei
Pois tu sabes que não seria verdadeira

Poderia até ser a minha derradeira carta
Mas eu nela mentiria como o fiz na primeira
Minha alma tombada na estrada já se farta
E a vida está quebrada quase por inteira

Hoje eu vou apenas ficar
Vou rasgar todos os compromissos que contigo eu assinei
Estou a tentar meu corpo deixar
À sombra do boneco que ontem te dei

Vai andando sem olhar para trás
O que ouves é apenas o eco da voz
De um grito que não quererás ouvir

Ele não chama por ti nem chama por nós
Apenas grita nada importante que te possa importar agora

Apenas imita
Uma alma que chora



André Correia

Nota: Este poema surge no seguimento do poema NO DIA EM QUE JULIETA MORREU. É como se fosse um complemento.

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