Pedes-me
a eternidade e eu dou-te simplesmente este momento,
esperando
que o enlaces nos teus dedos de veludo delicado
– dois
fortes nós com o débil cordel da memória. Segura-o bem,
exibe-o
como uma criança a quem ofereceram um balão colorido.
Corre
de olhos fechados, deixa-te levitar e lê os poemas do vento,
mas
não agora.
Pedes-me
a rectidão, a mim condenado a uma existência elíptica,
a todos
os contra-sensos que os dias me deixam no baço espelho.
É
simples o que te prometo: não a lonjura do mar ou das estrelas,
mas
antes um passeio que os nossos beijos tornarão cruelmente curto
porque
o tempo, deus sempre ciumento, nunca se esquece de nós,
mesmo
quando num compasso lento e doce nos olvidamos da sua sombra.
Agora,
enquanto escrevo estas palavras, Dezembro deita-se nas ruas,
pois todos
os homens ignoram a sua presença e tentam dormir.
Mas
eu e tu sabemos extrair o sublime destas noites áridas e gélidas,
pois são
elas que nos lembram o lugar de tudo o que nos mantem quentes
- cobertores:
armário grande – e que nos levam sempre a concluir
que acreditar
também aconchega. E o tempo confirma. Eterno é nada.
Dezembro
há-de morrer. Nesse momento, espero que saias à rua,
que
corras, que desafies o vento e que, por fim, percas o teu balão.
Porque
entretanto ele perderá a cor,
mas nesse
instante, julgo, terei ainda ar para encher um outro.
Assim
sendo, apenas te peço que sejas o éter.
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