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sábado, 5 de fevereiro de 2011

SOL E TEMPO



Na sala, eu vou ficando a ver fotografias antigas, em molduras coloridas desbotadas pelo tempo: momentos felizes. Lembranças com pó, pousadas sobre os móveis antigos da sala. Momentos recordados em Dezembro.
Numa dessas fotografias, eu sou ainda jovem, sorrio ao lado dos meus pais. Eles também sorriem e, por momentos, fico com a sensação de que sempre foi assim. Numa outra, estou eu, criança. Apenas um pouco mais velho que o meu filho. Tempos de escola, em que os Dezembros eram diferentes.
Depois, escondida na última página de um álbum castanho, com manchas líquidas, está ela. Linda. Jovem. Com os seus cabelos negros subtilmente frisados, com a sua pele branca como a cal e as suas mãos delicadas pousadas sobre o colo. Com os seus olhos fundos como poços cavados na sua face bela, serena, e os seus lábios esboçando-me um sorriso leve: está ela. Os meus olhos ficam presos durante algum tempo, ali: naquela fotografia.


O sol desce por entre as nuvens poucas
do céu azul.

Os minutos empancam no velho relógio
do meu pulso.

Confuso.

Eu não sei se estou aqui realmente,
se sou eu quem escreve estas palavras
ainda sem sentido.

Lá fora vejo andantes manchas de gente
com um rumo tão perfeitamente perdido.

O sol tocou agora as salgadas faces do mar.
Beijou-as levemente
e depois desapareceu.

Mas aqui o tempo parece não querer passar.
Teimoso como gente,
quase tanto como eu.

O tempo por vezes pára,
contrariando o sol poente.

A crença que eu queimara
hoje volta-me intermitente.

O dia volveu-se noite clara,
pois o tempo está parado.

Paradoxo normal,

momento nunca tido desejado

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