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quinta-feira, 22 de março de 2012

eternos são os medos

 Fotografia: Eduardo Lima


escrever poesia é provocar terramotos interiores.
por isso mesmo, quando me perguntam
por que motivo insisto em fazê-lo, costumo dizer:
gosto de tremer, porque o medo faz parte.

todos sabemos, exceptuando os loucos,
camuflar os nossos medos com as crenças mais absurdas,
crenças que passamos de geração em geração. assim,
aos poucos, aquilo em que acreditamos,
em que acreditamos sem precisarmos do positivismo,
vai sendo corrompido pelo tempo
e pelas várias mãos que seguram e moldam essas certezas,
mas que, por vezes, as deixam cair.

os medos continuam sempre, eternamente.
o tempo não existe para eles. um poema é um medo,
mesmo quando escrevemos sobre o amor,
fazemo-lo pelo medo consciente de o perder,
porque o amor não é um medo,
e, por isso, não atravessará as várias eras futuras do Universo.
disso temos medo. um poema faz-se, simplesmente, de medo.
faz-se de tempo deitado fora.

mas é cedo, certeza com fracturas,
porque eternos são os nossos medos camuflados de versos:
deuses-dourados-adolescentes ou monstros-dementes diversos.

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