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domingo, 1 de abril de 2012

milagre-proveta


 Fotografia: Eduardo Lima

eu fui aquilo, quando as minhas mãos eram mais pequenas,
os dedos mais curtos, um corpo inteiro de menores proporções
e os meus sonhos tinham aquela magia secreta da enormidade;
eu tive um pedaço de bolo da minha felicidade, cheiro a alecrim.

houveram dias, supernovas de cores e de sabores exóticos,
florestas de pinheiros mansos a sujar este novo mundo de betão,
aves de migração de todas as espécies, colibris beijando corvos,
dias esses que gostaria que fossem hoje gelados de sumo nossos.

se o mundo soubesse os meus planos mais profundos, luminosos,
aqueles que podem curar cegos e dizimar esses sublimes retóricos,
eu creio que seria preso, culpado de deambular nu pelas esquinas.

se o mundo fosse um jornal, com as informações falaciosas de nós,
eu limparia nele o meu cu, vomitaria este tempo cru e de cortinas.

como eu queria não ter sido tão gélido no dia da morte de Julieta,
ter tido a bênção do autocontrolo, ter falado da chuva que fazia.

agora, perdido em contradições, chagas interiores ao meu corpo,
eu penso naquela criança, milagre-proveta, que sorria-sorria.

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