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segunda-feira, 30 de abril de 2012

morte aos monstros!




o frio agarrado ao meu peito e às minhas memórias,
o erro colado aos meus pés indecisos e desnorteados.
a rua a abarrotar por todos os lados espectros só meus,
porque fui eu quem os moldou e os manteve por perto,
quem lhes deu nome e o poder  mais cruel e impossível.

e eles riem, eles galopam, eles elevam ao quadrado
o total do meu medo. arrasto o branco do cortinado
e tapo o negro da noite lá fora. mas eles não desistem,
sempre se deram tão bem no sótão da minha lembrança.

as minhas certezas de outrora agora em pedaços,
como a fotografia que trago no bolso metida
e em que tu já não estás e em que eu já não conto.

como poderei fechar eu os meus olhos tranquilamente,
se sei que a minha mente é um lugar de monstros?

(não feches! convence os olhos e faz o poema mudar.)

recupero minha visão. largo os óculos. sou criança
outra vez, embora sinta a lástima de estar ciente disso.

as canções da infância e os sonhos que voaram
da minha mão, papagaios soltos ao vento,
reanimo-os agora e invento o manifesto das cores.

elas colidem, elas mesclam-se, elas conhecem-me
novamente e dão à minha pele um tom iridescente:
um arco-íris a pintar o peão que se aproxima do rei,
a pairar insensível sobre cadáveres nas minhas veias.

o sol a implodir a oito minutos do meu mundo:
a reduzir-se, a ajustar-se, a pertencer ao meu corpo.
os monstros a diluírem-se nas cores e a evaporarem,
tempestades solares nos meus olhos, anéis de fogo
que incendeiam trincheiras de razão dentro de mim.

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