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quarta-feira, 2 de maio de 2012

vamos ver as montras




deixemos de parte todos os copos de mágoa meio vazios
e os poemas assolados pelos silêncios cortantes e sombrios,
estirpe mutante trazida pela nossa não comparência à mesa
e pelas incertezas dissolventes e cortantes para os pulsos.

hoje vamos somente existir avulsos da terra seca e estéril;
hoje vamos ver as montras, vamos dar passos não calculados
e comprar um sorriso melhor para nós, beber do mistério,
exaltar o sacrilégio prazeroso da carne e erguer os braços.
[mais alto! os nossos pedaços nada podem contra os saldos
da felicidade matinal, nada são quando damos as mãos.]

vamos ver as montras, levitar sem saber pelas ruas da baixa.

esqueçamos a austeridade e o aprumo da poesia clássica,
assim como os ovos mexidos da reles contemporaneidade.
não quisemos ser gélidos, foi o mundo, segundo a segundo,
foi a culpa terceira que sempre apontámos com desdenho.

eu e tu, o meu olhar exacto, nunca quisemos ser Matisse
e representar na tela a luz refractária do pôr-do-sol. eu e tu,
semente de loucura, nunca quisemos ser uns surrealistas
e jurar a pés juntos a infidelidade sabida do positivismo.
aliás, nós nunca soubemos muito bem o que queríamos ser,
se uma veloz gazela emancipada ou se uma lenta lontra.

vamos pôr-nos a par das tendências. vamos ver as montras.

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