deixei todos os mapas herdados abertos sobre a mesa
onde ainda
ontem lá comeram protótipos de cavalos livres
onde
em tempos discutimos a infância dos deuses ao serão
em
que bebíamos licores e esboçávamos em guardanapos
plantações
solares para colher relógios
agora
recolho os mapas
vendo
a mesa vendo a casa
e nada
meu há-de ficar para além dos segredos
que
as paredes sustentam colados ao tecto onde reinam aranhas
que
no seu canto reproduzem em quantidades industriais
teorias
conceptuais do medo
calafrios
que se infiltram nas entranhas da mente
e
através das veias correm
como
crianças impacientes
brincando
solitárias à apanhada
agora
recolho os mapas
e
finjo não suspeitar da inutilidade dos pontos cardeais
pergunto
numa língua estrangeira o paradeiro da fortuna
e um
mar vazio de ideais apresenta-me a deriva
onde náufragos
numa duna cantam em uníssono
uma
balada para Leopold Bloom
a
casa foi vendida
e até
foi por bom preço
é
estranho haver gente que não se importe ou repugne
de
viver onde ainda habitam as memórias de outros
para
mim isso não dava
eu
sei lá se tu tens um passado asseado
é mesmo
estranho
tal como
é estranho haver gente
dentro
e fora de mim
bem
vistas as coisas
eu
próprio sou uma casa
uma
residencial sem gerente e de segunda categoria
onde
a contradição sobrevive
em
regime de pensão completa
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