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segunda-feira, 13 de junho de 2011

PALAVRAS EM GUERRA (CARTAS PARA A MINHA MÃE)


Luto por Portugal. Luto por todos nós e por nós sobrevivo, mãe.

Gostava de ver o teu orgulho ao ler estas palavras, que o meu rosto inexpressivo não te poderia nunca dar. Gostava de ser menino outra vez, gostava de pousar a minha cabeça no teu colo de novo. Gostava de poder chorar. Como eu gostaria mãe.

Aqui sou eu e os outros: uma guerra infindável entre soldados, que não são mais que meros peões. Tão cansados. Sinto-me cansado, mãe. Não digo que tenho medo, mas sinto medo. Não poderei nunca dize-lo. Porque o medo sem ser dito é apenas uma noite de Inverno. Cortante, arrepiante.

As noites aqui são quentes e os dias gelados, mãe. Penso nas histórias que me contavas e nos beijos que me davas para eu adormecer. Penso neles durante estes escuros dias. Mato homens diferentes, iguais a mim durante o dia mãe. A guerra é assim. Sou eu e os outros, separados por balas. Sou eu sem eu mesmo, matando, matando. É a minha voz sem o meu ímpeto, gritando, gritando.

Espero poder voltar. Prometo que voltarei mãe. Espero que me reconheças ainda quando voltar mãe. Não prometo que seja eu.

2 comentários:

  1. Obrigado! :) Tenho votado no texto. Adorei. Espero que ganhe alguém que realmente mereça e não alguém que tem milhares de "amigos" no facebook.

    Bem, mais uma vez obrigado e espero que continues a visitar o blogue :)

    André Correia

    Nota: estou com problemas para responder aos comentários, por isso aparece como anónimo

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