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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

a fome e a estagnada poesia



formam-se inúmeras palavras em meu redor
mas elas, cansadas, dizem tão pouco.
faltam-lhes as forças para serem maiores,

para quebrarem os silêncios e irem,
sem destino, para lugares sem pontuação.

também estas não são,
também estas não vão.

algumas desafiam os limites do tempo
e ficam no papel, envoltas em pó, silenciosas.
outras passam rápidas, acutilantes para nós
que sempre preferimos a estagnada poesia:
a arte de ficar a olhar sem pensar em rimar.

e os nossos pensamentos
e os nossos ouvidos surdos
e os nossos olhos mecânicos
e os nossos sentidos mais verdadeiros
são afinal serviçais primeiros da razão.

também eles tão corrompidos,
também eles de mais sorrateiros.

e o nosso consentir,
por consequência da fome velha,
matou nossos sinais mais puros.

agora mudos saltamos para a água dura
e desfazemos a figura que nela se espelha.


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