I
estes
versos não estavam previstos,
foi
a noite quem mos mostrou.
saí
para fumar um último cigarro
e
no manto negro nocturno límpido de nuvens
as
estrelas sorriram-me muito,
como
se me esperassem: sentinelas da meia-noite,
que
vigiam os passos dos meus fantasmas mais secretos.
estes
versos não estavam previstos,
sobretudo
porque me cansei deles.
mas
a noite aguardava-me calma,
apaziguadora,
como o ventre de uma mãe suprema
que
canta para o seu filho até que ele adormeça.
acordei.
o sorriso das estrelas encheu-me os olhos
enquanto
rodei sobre os meus pés, na tentativa de fixá-las todas.
estes
versos não estavam previstos,
não
fosse o brilho que hoje trazias vestido.
de
entre todos os corpos celestes, elegi-te,
nomeei-te,
enquanto o cigarro morria nos dedos,
enquanto
os meus olhos calculavam a nossa distância.
anos-luz
a separarem-nos, outras coisas tantas,
porque,
no entanto, as estrelas não têm dono e os olhos dão-se à cegueira.
depois
regressei ao quarto onde agora escrevo
e
tu permaneceste lá fora,
onde
te localizei numa constelação que inventei.
quando
adormecer, quando tiver acabado de matar este poema
que
eu gostava que te espelhasse um pouco,
espero
que alguém, no meio da madrugada,
se
embebede também de ti, para com isso construir uma utopia,
mas, no entretanto, não te esqueças que te vi primeiro.
não
te esqueças que este poema é o esquiço metafórico
onde
a traço largo anotei a tua força gravítica.
II
regressei
ao abraço da noite exterior, mas já não te encontrei.
entre
todas as estrelas, já não te passeavas…
talvez
tenhas migrado para o céu de um outro hemisfério,
onde
olhos menos pretensiosos te procuram.
se
te cruzares com os meus fantasmas, enfeitiça-os,
para
que regressem à cama solitária do meu naufrágio,
onde
o meu desencanto em forma de astrolábio prova a tua impossibilidade.
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