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sexta-feira, 20 de março de 2015

Expedições homéricas

Deito-me sobre os versos verdes da manhã que anuncias,
e sou capaz de permanecer assim uma noite, um século,
acompanhando a alternância celeste entre o sol e as estrelas,
entre a luz que não agarro e as trevas que trouxe comigo de casa.

Sou mesmo capaz de ficar assim durante muito tempo.
Invernos estalinistas a conjecturar todas as primaveras possíveis,
todas as metáforas novas que se abrem à tua passagem
e em seguida se recolhem,  quando as tento espalhar no rosto
deste poema que eu pedi almofadado e com um escudo de fé.

Mal fadado é o homem que permanece deitado
e espera que a vida lhe traga propostas de veludo.
No final de tudo, a poesia não é um deus
e tão somente concebe através da corrosão.
A poesia é pouco mais do que acordar com dores nas costas
ou ter o osso imaginário da razão carente de cálcio.

E o que importa isso?
Também ninguém imagina um poeta a fazer halterofilia.

A poesia é uma guerra e paz de trazer por dentro do corpo,
onde nas veias
expedições homéricas partem em busca do nome infantil do mundo
e do seu significado.

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