Páginas

segunda-feira, 27 de abril de 2015

404 Not Found

As palavras nem sempre são a melhor escolha
para explicar as coisas interiores dos seres e do mundo,
aquelas que não vemos,
apenas o pressentimento abstracto da sua existência,
como trovões sem relâmpagos visíveis a rasgarem os céus,
mas que dividem profundamente a lógica
e a acalmia dos tratados assinados sem grande fé.

Entre sujeitos e predicados perdem-se as acções
e os verbos que aprendemos limitam os nossos movimentos
que havíamos delineado e trazíamos na carteira.

Prefiro a música à poesia,
mas a minha voz, afónica por natureza, não é pistola certeira.
Prefiro o teu olhar às tuas palavras,
nas não me ensinaram a lê-lo na escola.
Seria, com toda a certeza, melhor aluno,
se a vida perdesse mais algum tempo comigo
e o tempo não fosse tão impaciente.

Brinco com palavras porque não sei decifrar discursos.
Os meus poemas não me fazem muito sentido,
tal como, de resto, nada mais me faz.

Entre concursos em que homens vaidosos medem pilas,
notícias de guerras longínquas e saques de humanidade,
passo ante passo, prossigo
e pouco ou nada merece o meu interesse.

Repito: prefiro a música à poesia
e agora lembro-me daquela que me mostraste um dia.

Tínhamos o estranho hábito de dizer tanto sem puxarmos das palavras.
Uma simples ligação para o youtube bastava
para te explicar que também há relâmpagos que não produzem trovões.

Tu percebias e eu também,
em inglês quase sempre,
sem necessidade de tradução.

Talvez eu não seja o raio nem o trovão de coisa alguma,
apenas uma manifestação discreta do meu próprio significado,
encriptado e espalhado em dezenas de links
das músicas que um dia te mostrei a partir do youtube.

Acho que nunca te disse isto concretamente,
mas tens um bom e imersivo gosto musical.
Gostava quando o usavas como marcador discursivo,
tudo me parecia mais fluente e coeso nesses momentos
feitos de entrelinhas onde eu pensei caber um soneto.

E talvez coubesse,
fosse a minha métrica mais certa.



Sem comentários:

Enviar um comentário