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domingo, 12 de fevereiro de 2012

é como se fosse




gostava de te dizer tantas palavras que não consigo.
conheço-lhes o significado, tal como a sua grafia,
estou até ciente, de forma vaga, das suas proporções,
dos seus  prós e dos seus contras. consigo , imagina só,
ouvir-me a pronunciá-las no meu pensamento,
mas a voz prende-se. não me culpes.

no fundo, julgo que sabes, tal como eu sei os teus olhos,
tal como tu sabes de cor as palavras que não vou dizer.
valem tão pouco. isto pode não ser um poema para ti,
não é um poema para ti, não era suposto ser
e sei que não preciso explicar-te muito mais.

(sempre leste tão bem nas minhas entrelinhas.)

por qual razão haveria de redigir um poema e falar-te de ti?
tu conheces-te, normal, embora nem sempre acredites que sim;
tu conheces-me, banal, embora nem sempre saibas de mim.

somos assim.
ainda pensas que te deveria escrever um poema ou um postal?

                ambos amamos demasiado os nossos silêncios,
o mundo não entende por que escondemos as palavras,
por que optamos pelo dilema de sermos nós próprios.

(não, não valeria a pena tentar explicar isto ao mundo.)

neste momento sei que estamos aqui os dois,
a tremer com a possibilidade de outros lerem isto,
envergonhados, presos num segundo derradeiro.

(queremos falar, mas não sabemos nem o que dizer.)

silêncio agridoce. tu sabes por que desisto. improviso:

- tens isqueiro?
- não, apenas fósforos.

é como se fosse.

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