noções medíocres de onirocrisia
a ideia pariu este poema e o poema parou essa ideia, ponto
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quinta-feira, 9 de agosto de 2012
vamos devolver a máquina (versão áudio)
Autor: André Correia
Voz: Eduardo Lima
Edição: André Correia
Agradecimento especial ao Laboratório de Rádio da Universidade Fernando Pessoa.
tantas foram as fotografias que tirámos com esta máquina
e, agora, algumas, já não as lembramos, tempo a morrer.
outras quisemos esquecer e não executamos o movimento.
existe uma imagem mais alta do que os telhados,
um ruído que se desprende dos outros e nos toca;
existem sinais por todo o lado, não pretendo olhar,
não olhes também. tenta dormir, sim, tenta dormir.
ensinaram-nos a contar as horas, a ferver a água,
a saltar e a olhar o céu. apontámos a um só avião
e vimo-lo sem querer. talvez nos fosse inevitável.
- dizem que não nos vê lá de cima…!
dizem tanta coisa. há quem afirme o nosso sono,
a nossa cegueira, a nossa sorrateira existência.
dizem tanta coisa. por experiência, sumimo-nos,
sabemos não ouvir. mas existe uma imagem,
ela paira sobre os telhados, sobre o nosso sonho.
um gigante de promessas em ferrugem – um rosto
que se assemelha àquele que tivemos um dia.
se ele nos falasse, creio, não seria razão de receio,
mas ele não se distrai, o seu tempo é outro: agora:
somos somente sombras com dores abstractas. ai!
e disseram-me que ele não nos vê lá de cima…!
incapazes de destruir o gigante moribundo,
que já só anseia por morrer numa rua qualquer,
escondida das nossas coordenadas, vamos mentindo,
tentamos formatar os risos de outrora, mas o mundo.
o gigante a contorcer-se e assumir-se brinquedo;
o passado a sorrir-nos e dizer-nos que é tarde.
ele tombará sob o nosso enredo, não há saída.
vamos devolvê-la, agora, antes que se estrague.
a máquina tem de sobreviver, porque a vida.
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