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terça-feira, 1 de março de 2011

FEIO, MAU E ESTÚPIDO




O meu passo é inconstante. Ora é rápido, ora é lento. Afasto-me das pessoas que vêm em direcção a mim. Pareço ser invisível, mas não sou. Vejo-me, apenas eu noto a minha presença.

Havia perante meus olhos
fumo, ruínas e gritos desafinados
pintados por vozes tão trémulas.

Havia a cidade e eu
e os outros
e nada.

O tudo à fome morreu
e a certeza foi quebrada

Mas o meu corpo não cedeu,
capa desta alma parada.

O nosso tormento veio mais cedo
e de deus não tiramos mais que medo…

o medo sempre vendeu tão bem!

Agora que por fim o tens,
tu não sabes com ele agir.

As tuas palavras,
o teu sim e o teu não,
são agora difíceis de ouvir

porque no fim essa boa razão
também ela vai subnutrir,
explodir como bomba sem rastilho.

Mas isso são coisas do mundo
e bem lá no fundo,
eu não tenho porque fingir.

Na mão eu tenho o milho
e no estômago a humanidade.

O meu pão que não partilho,
eu esmago no verso pútrido.
Afinal sou mais um filho:

sou feio, mau e estúpido…

sou um resto de verdade.

1 comentário:

  1. uma prócura de um EU...
    o reencontar com o desconhecido , pura miragem de uma mente...mas que transporta tantas incertezas ...lindas estas palavras que li gostei...e silenciam..

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