[metáfora da tarde e do esquecimento]
fogo-de-artifício de todas as cores nas
nossas bocas,
incêndios a proliferarem nos nossos
corpos molhados,
sôfregos, carnais, deitados em searas
regadas a gasolina;
o trigo a abafar os nossos gemidos puros
e recônditos.
animais ao longe, sem bilhete, a
assistirem ao fim do dia
que se aniquila em suor na planície que nos
domina.
não temos palavras. em casa,
temos um lembrete no frigorifico com os
nossos nomes.
temos olhos abertos, aqui, agora,
cegos por qualquer coisa que não
necessitamos de dizer.
[metáfora do lusco-fusco e do regresso]
um arrepio na pele. os nossos pés a
tocarem as nuvens
e nós a sentarmo-nos, a pedirmos um
desejo silencioso
que o vento leva para longe, para a casa
banhada a prata
onde mora um gigante a quem disseram ser
um monstro;
ele é feito de gelo, tem tentáculos
dentre dele, ferros,
uma lâmpada, carne por comer e um motor
quase mudo.
não o ensinaram a viver. na porta,
tem post-its amarelos com os nossos
nomes caligrafados.
agora, tranquilo, dorme. depois, lá,
quando chegarmos, sorrir-nos-á e terá um
pudim para nós.
– Come rapaz! Senta-te aí fora, na
soleira, olha as estrelas!
Pensa nela, ouve a festa e o folclore
ali em baixo, na vila.
Dizem que este ano não há fogo-de-artifício…!
– e fechou-se.
[metáfora da madrugada e do amanhecer]
e, agora, a noite de verão varrida por
um vento que lembro;
e o silêncio que não corta, antes semeia
pensamentos livres;
e as planícies que já não ardem, mas que
libertam um fumo;
e os pirilampos luminosos, na vida e na
morte, sem soberba;
e o pudim de ovos que não posso comer a
saber-me tão mal;
e o fogo de artifício que não rebentou
anunciado pela câmara.
mas nada disso torna os ponteiros do
relógio mais estridentes,
pois escorrem estrelas cadentes que assobiam
o teu rosto,
subtis, para o meu frigorifico não
acordar e chamar por mim.
Nunca imaginei uma voz doce associada às palavras tão fortes (pórem belas...)
ResponderEliminarobrigado! :)
ResponderEliminara minha voz não consegue acompanhar o timbre imaginado das palavras que escrevo.