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sábado, 2 de junho de 2012

a morte do brinde à vida das balas





palavras desalinhadas, palavras sozinhas e encostadas a nós,
palavras que deambulam e que atravessam o rio de ferry.
falam pouco, dizem bom dia e obrigam-nos a dar um sorriso
ao senhor revisor que passa altivo e acena com a cabeça.

e as palavras dos pacotes de açúcar que se fundem com o café?
ai, essas – essas são a pior raça! declaro guerra a essas Severas:
rimas como gravatas sobre camisas proeminentemente passadas.

todas aquelas que não oferecerem resistência
serão grafadas em pergaminhos condignamente enterrados
- numa cerimónia devidamente anunciada pelo senhor prior
e que terá a presença do Doutor Ministro das Cousas Todas.

- alguém há-de chorar por elas!

os ponteiros do relógio a sacudirem a ferrugem doutras eras,
o peso dos copos de cristal a precipitar-se na tijoleira negra
impávida e serena perante a morte do brinde à vida das balas
(a ineficácia das armas neste meu deserto de espinhos de aço.)

os bancos de jardim desconsolados e com soluços espaçados
aguardando por um segundo explosivo aos portões dos olhos
cansados, que ponha término ao choro ácido das serpentes.

as balas eram os nossos silêncios de domingo,
a que fomos recorrendo sempre que estes nossos olhos
se tocavam e exploravam em imensos corredores de luz.
agora, esses silêncios são os corvos negros: a distância.

- alguém há-de chorar por elas…

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